Essencial na alimentação dos brasileiros, o arroz possui um papel importante na economia do Rio Grande do Sul. O Estado gaúcho é o maior produtor de arroz em casca do país, sendo responsável por mais de 70% da produção nacional, que o torna ator fundamental na garantia da segurança alimentar do povo brasileiro.
De acordo com informações da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), dos 497 municípios gaúchos, 205 dependem desse cereal em suas respectivas economias. Atualmente, o setor gera mais de 20 mil empregos diretos e envolve cerca de seis mil unidades produtivas.
No entanto, o cenário recente não é tão favorável. O Estado produziu recentemente mais de 1 milhão de hectares de arroz por safra, mas vem apresentando redução na área plantada, sendo projetado para o período 2022/2023 uma considerável diminuição na oferta de venda.
Em entrevista, o presidente da Federarroz, Alexandre Azevedo Velho, aborda as dificuldades encontradas e os novos horizontes que acredita estarem prontos para serem adotados.
O setor arrozeiro vem enfrentando alguns obstáculos, como os acréscimos nos valores de alguns insumos. Qual é o cenário atual, na sua opinião?
É preocupante, principalmente devido ao aumento do preço dos fertilizantes, que dobrou seu valor no último ano, o equivalente a 20% do custo de produção. Um outro obstáculo é que o produtor não controla o preço do arroz em casca, que depende de muitos fatores como a produção, a taxa de câmbio, o mercado internacional, a política tributária de outros estados da Federação, questões de logística, o consumo interno no país, entre outros.
Por isso que a cultura do arroz tem que estar ligada à rotação de culturas. Não basta ser apenas um produtor de arroz, mas sim de grãos. Quando ele realiza plantio em sua propriedade e destina de 40 a 50% de soja junto ao arroz, normalmente, alcança níveis maiores de produtividade, diminui a necessidade de controle de plantas invasoras, melhora a fertilidade e possui mais competitividade de mercado.
Claro que é importante respeitar as características de cada uma das seis regiões arrozeiras do Estado: Fronteira Oeste, Central, Zona Sul, Campanha, Planície Costeira Interna e Planície Costeira Externa. Com diferentes características de solo, algumas podem plantar mais soja e outras menos – como no caso da Fronteira Oeste, não possui tanta capacidade para esse tipo de grão.
Também é possível fazer uso da pecuária com pastagens durante o inverno. Assim, no verão, esse plantio beneficia essas culturas de inverno, porque essa cobertura vegetal traz benefícios à fertilidade do solo.
O senhor mencionou estimular a pecuária junto às plantações de arroz. Como pode ser feito esse caminho?
A interação da lavoura e da pecuária é a racionalização no nosso setor, pois é possível alcançar níveis mais altos de produtividade.
A intensificação da pecuária é muito importante nesse sistema de produção. A atividade rural precisa ser sustentável para que seja viável manter os produtores rurais nas suas atividades produtivas, com os seus empregos, girando a economia de municípios e assim, continuar fornecendo alimentos às mesas dos consumidores. A administração de cada negócio está no detalhe e, cada vez mais, as margens são menores, o que nos obriga a ter maior eficiência e isso ocorre somente com uma gestão muito forte do processo produtivo.
Anualmente, a entidade promove um tradicional evento, a Abertura Oficial da Colheita do Arroz e Grãos em Terras Baixas. Como estão os preparativos?
É o maior evento de abertura de grãos da América Latina. Vai ocorrer do dia 14 a 16 de fevereiro de 2023, em Capão do Leão. O tema desta 33ª edição será “Arrozeiros como produtores multissafras", o que vai ao encontro do que estamos falando. Novamente, destaco que o arrozeiro precisa ser um produtor de grãos e o multissafras está na mesma linha do Programa Duas Safras, uma iniciativa da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) em conjunto com outras entidades, entre elas, a Federarroz. É a intensificação do sistema de produção, que busca alternativas como o milho, a soja, o trigo e a pecuária.
O evento tem uma programação de muita qualidade, com palestrantes renomados do setor. Na última edição, estiveram nove mil pessoas presenciais, vindos de 20 estados brasileiros e com representantes de 15 países visitantes e, nessa próxima, a expectativa é ultrapassar o público de 10 mil pessoas, dentre produtores rurais e suas equipes, engenheiros agrônomos, técnicos, pesquisadores e representantes das instituições de pesquisa, de ensino, da área financeira, além dos profissionais das principais empresas do setor do agronegócio. Esse aumento será possível devido a ampliação da programação dos Fóruns e palestras, do acréscimo do número de expositores, tanto na Feira quanto no Roteiro Técnico. Serão cerca de 150 empresas e instituições envolvidas. É uma ótima oportunidade de troca de informações, agregar conteúdo relevante para a tomada de decisões técnicas, de gestão, financeiras e mercadológicas, além de acessar os lançamentos do mercado e conferir nas Vitrines Tecnológicas – lavouras demonstrativas do roteiro técnico - as novidades em termos de cultivares, linhas de defensivos agrícolas, fertilizantes, de soluções de irrigação, da aviação agrícola, do uso de drones e outras tecnologias para maiores resultados.
Confira mais sobre a 33ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz e Grãos em Terras Baixas em www.colheitadoarroz.com.br
As inscrições são gratuitas.
Em relação à exportação do produto, o que tem sido realizado?
Há alguns anos, a federação tem trabalhado no mercado do México, muito em decorrência da sua importância, destinando de 800 mil a 1 milhão de toneladas ao ano. A Federarroz está presente nos últimos anos naquele país. Eu estive, no ano passado, na cidade de Guadalajara, em uma feira de alimentos. Para se ter uma ideia, em 2021, tivemos o maior volume de arroz em casa comercializado para o mercado mexicano. É preciso que o produtor tenha consciência de que a exportação é um verdadeiro investimento e precisa ser realizado.
Quais são as projeções para o arroz do Estado?
Estamos em busca de novos mercados, como o do Panamá, um país estratégico pela sua logística. A América Central possui vários países que valorizam o arroz brasileiro. Temos que continuar a procurar novas alternativas de exportação e fazer nosso dever de casa que é a gestão do processo produtivo.
É fazer com que cada um tenha o seu custo de produção, o do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), por exemplo, é apenas uma referência. Outro aspecto é plantar somente em áreas que tenham altas produtividades. Por fim, ter mais cuidado com os investimentos em máquinas, pois com os aumentos dos juros, adquiri-las ficou mais oneroso, o que requer uma gestão ainda mais eficiente.
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Campo em Debate
Muitos dos assuntos abordados pelo presidente da Federarroz foram pauta no painel Campo em Debate. Com o tema “Arroz na rota da rentabilidade”, o evento contou com a participação de vários especialistas que debateram sobre o setor arrozeiro, como a Abiarroz, Federarroz, Sindarroz e Sindapel. O Campo em Debate ocorre na Casa RBS, durante a Expointer, em Esteio, com transmissão ao vivo pela GZH.