Diferentes elos da cadeia do agronegócio se encontraram recentemente para debater uma temática chave para o futuro do setor: a relação entre o uso de tecnologias e a preservação ambiental. Mediada pela jornalista Giane Gerra, do Grupo RBS – que abrigou o encontro em seu Espaço Clientes –, a conversa contou com o secretário do Meio Ambiente e Infraestrutura do RS, Artur Lemos, o deputado estadual e ex-secretário da Agricultura do RS Ernani Polo, o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro-RS), Paulo Pires, o diretor de Relações Institucionais e Comunicação da CMPC, Daniel Ramos, e o fundador do Mercado Brasco e curador do Global Shapers Community em Porto Alegre, Gabriel Drummond.
Ao abrir o fórum, Laila Pinheiro, Head de Relações Externas da Syngenta, empresa apoiadora do evento, frisou a importância de diálogos que, como o da ocasião, promovam a aproximação entre os atores da agricultura gaúcha e o público urbano, que acaba por desconhecer a complexidade da rotina no campo.
A necessidade de rever e modernizar a legislação ambiental do Estado foi tópico de destaque na fala de Artur Lemos. O secretário associou esta modernização à evolução de uma agricultura mais sustentável:
– Estamos comprometidos em criar um ambiente de produção para o nosso estado mais competitivo e conectado à agricultura mundial. Precisamos ser capazes de vencer burocracias que não agregam às demandas de investimento sem deixar de ter responsabilidade na proteção da nossa rica biodiversidade. O debate que tentamos promover se dá para que os produtores brasileiros tenham o mesmo acesso que os de fora, pois precisamos possibilitar que ele tenha condições de se conectar a essas novas tecnologias e prosperar.
Ao longo de sua participação no fórum, o deputado federal e ex-secretário de Agricultura do RS Ernani Polo, que nasceu e cresceu no campo, abordou a intensa dinâmica da agricultura. Segundo Polo, a morosidade que envolve a avaliação de defensivos agrícolas priva os produtores do acesso a tecnologias mais eficientes, menos agressivas ao meio ambiente. Ele salientou que no Estado e no país há um clima que tem as quatro estações no mesmo dia, o que faz proliferar a produção de pragas. "Se você não controlar, acaba liquidando com a produção." Polo também destacou a necessidade da modernização das leis que regulam o setor:
– Precisamos evoluir para que tenhamos uma produção sustentável, equilibrada, preservando o meio ambiente e viabilizando o alimento seguro, por meio do acesso à inovação, seja ela representada por equipamentos ou por insumos. Muitas vezes, ficamos restritos a insumos no Rio Grande, devido a leis criadas no passado e que demandam revisão.
Paulo Pires apontou o crescimento de 11% no setor agrícola, em média nos últimos cinco anos, e julgou o momento como “extraordinário” para o setor, que segue gerando empregos mesmo em momentos de crise econômica. Ao falar sobre a frente que representa, o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul ponderou a continuidade do interesse dos mais jovens na agricultura:
– Se não tivermos qualidade de vida aplicada à dinâmica do campo, os jovens não irão continuar no campo. Outro ponto chave se conecta à questão da assistência técnica, pois precisamos preparar os novos profissionais para os novos tempos. O produtor não pode ficar fora de nenhuma oportunidade de desenvolvimento.
Segundo Daniel Ramos, a questão ambiental faz parte do propósito de quem vive no campo. Sustentabilidade já virou valor e não prioridade: “Prioridades mudam, valores não”. Ramos apontou também o surpreendente nível técnico institucional do Rio Grande do Sul.
Ao final do painel, Gabriel Drummond abordou a visão do consumidor e como ele se relaciona com demandas de consumo e formas de produção de maneira distorcida:
– As pessoas das cidades questionam a agricultura convencional, mas não entendem e por vezes não se dispõem a entender o quão é difícil produzir, o quanto a chuva e as mudanças climáticas interferem no dia a dia do campo.