O Rio Grande do Sul poderá ser um dos Estados mais afetados no saneamento básico em um contexto de mudanças climáticas até 2050. A conclusão está no estudo As Mudanças Climáticas no Setor de Saneamento: Como tempestades, secas e ondas de calor impactam o consumo de água?, publicado nesta terça-feira (19) pelo Instituto Trata Brasil (ITB).
O trabalho tem como base conceitos associados a riscos climáticos, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês). Foram analisados três riscos que estão ligados à oferta de água e tratamento de esgoto para a população brasileira: tempestades, ondas de calor e secas.
— O objetivo é entender como eventos climáticos extremos afetam os serviços de abastecimento de água e de coleta e tratamento dos esgotos e quais os Estados e cidades têm uma maior probabilidade de sofrer ameaças. Isso ajuda a mostrar a necessidade de planos de mitigação e adaptação — explica Luana Pretto, presidente-executiva do Trata Brasil.
Foi definido para a análise o período de referência (1895-1994), que tem o propósito de entender as condições históricas consideradas normais na região e, a partir desse comportamento climático, descrever como se comporta o cenário histórico recente (1995-2014), já com os efeitos da mudança do clima e as projeções para o período de 2030 (2021-2040) e 2050 (2041-2060).
— A magnitude do número de municípios com probabilidade muito alta de sofrer com ameaças climáticas é algo que nos assustou. Isso demonstra que as ações precisam acontecer e que não há mais tempo de conviver com esse tipo de realidade — acrescenta Luana.
Dados do RS
Conforme o levantamento, 92% dos municípios gaúchos têm risco “muito alto” de prejuízos ao abastecimento de água em momentos de tempestades; 8% têm risco classificado de “alto”. É o maior índice entre as unidades da federação – seguido por Santa Catarina e Rio de Janeiro.
Entra na conta a chance de danos físicos às estruturas e impedimento do transporte de água, redução da eficiência do tratamento e interrupções de energia.
O RS ficou em segundo lugar em número de municípios com maior chance de contaminação da água em caso de chuva forte: 21% dos municípios apresentaram risco “muito alto” e 57%, “alto”.
— O Rio Grande do Sul tem baixa coleta e tratamento do esgoto. Se ocorre uma precipitação máxima em um dia, esse esgoto bruto não tratado aflora na superfície com a inundação. A situação faz com que pessoas fiquem doentes e também ocorra a contaminação de rios por conta da falta de tratamento — acrescenta a porta-voz do Trata Brasil.
Entre as capitais, as cinco com mais risco de terem seus sistemas de água afetados por tempestades são Vitória (ES), Rio de Janeiro (RJ), Porto Alegre, Curitiba (PR) e Brasília (DF).
O Estado apresenta melhores projeções no saneamento básico em cenários de secas prolongadas e ondas de calor. No primeiro, a chance de danos no abastecimento é "baixa" em 95% dos municípios; na segunda (ondas de calor), o esperado para 63% das cidades gaúchas é de risco "muito baixo" de prejuízo no abastecimento de água, 4% "baixo", 27% "médio" e 6% "alto".
Conclusões do estudo
- Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Rio de Janeiro são os Estados com mais risco de ter o seu abastecimento de água afetado por tempestades
- Rio Grande do Sul e Santa Catarina são os Estados com maior risco de contaminação de águas superficiais e impacto no sistema de esgotamento sanitário em tempestades
- Mato Grosso do Sul e Amazonas apresentam os maiores riscos de seu abastecimento de água ser afetado por ondas de calor
- Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba possuem o sistema de abastecimento de água mais vulnerável a secas meteorológicas