Nos últimos meses, o Rio Grande do Sul tem sido afetado por volumosos e intensos períodos chuvosos, com milímetros previstos para um mês inteiro sendo quase – ou – superados em poucos dias. Um exemplo é Camaquã, onde choveu mais de 230mm entre os dias 23 e 26 de setembro, mês em que a média histórica no município da Região Sul é de 165 milímetros. Mas afinal, por que chove tanto no Rio Grande do Sul?
Meteorologista da Climatempo, Vitor Takao explica que os frequentes períodos de instabilidade que atingem o Estado estão relacionados com a formação de frentes frias, no Uruguai e na Argentina, e o ar quente que sopra de regiões ao norte do Brasil. Quando o ar gelado encontra o quente, rígidas nuvens de chuva se formam:
— Quando essa frente fria avança, ela encontra uma atmosfera bastante quente, como nos dias que antecedem os eventos de chuva mais extrema. Essa diferença entre a temperatura do vento, condiciona a formação de nuvens de chuva mais extrema.
A posição geográfica do Rio Grande do Sul favorece a atuação destes eventos meteorológicos de instabilidade intensa, especialmente do encontro entre as massas de ar com diferença de temperatura. É como se a atmosfera do Estado fosse o ponto de convergência entre as frentes frias que avançam do Uruguai e Argentina e o vento mais quente que sopra do norte do Brasil.
— O Rio Grande do Sul fica posicionado numa região geograficamente que está condicionada ao encontro de massas de ar. A latitude do Estado favorece justamente esse encontro de massas de ar fria em cima de massas de ar quente, por isso tem, frequentemente, a ocorrência de frentes frias avançando, da Argentina e do Uruguaia, em direção ao Estado gaúcho.
Murilo Machado Lopes, meteorologista da Universidade Federal de Santa Maria (UFMS), classifica esta interação entre as diferentes massas de ar polar como um "bloqueio atmosférico".
— Tem uma região lá na área central do Brasil com uma massa de ar quente e seco muito forte, que acaba servindo, às vezes, como um bloqueio atmosférico, para que esses sistemas (frente fria) não avancem, ou avancem no máximo até Santa Catarina, Paraná — explica.
Chuvarada
Outubro chegou com quatro avisos de chuva volumosa no Rio Grande do Sul, emitidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Dois seguem em vigor até quarta-feira (2), com indicação de possibilidade de temporais e ventania em Porto Alegre, Metade Norte e áreas das regiões Central, Metropolitana, Vales, Serra e Noroeste.
Apesar disso, a intensidade e o volume da chuva não devem superar a instabilidade da última semana, quando diversas regiões do Rio Grande do Sul registraram milímetros acima da média em poucos dias.
Em Porto Alegre, por exemplo, a chuva chegou a 106 milímetros entre os dias 22 e 26 de setembro. Para dimensionar o volume, vale ressaltar que a média histórica do mês de setembro na Capital é de 147 milímetros. Em São Lourenço do Sul, a média do mês (145) foi superada em apenas três dias, entre 23 e 26 de setembro, quando foram registrados mais de 200 milímetros.
— A tendência é que ainda hoje (terça-feira) a frente fria vá se deslocando em direção a Santa Catarina e Paraná. Ainda teremos uma condições de perigo em áreas do norte do Rio Grande do Sul, de chuva volumosa e eventuais temporais, mas áreas da Campanha, Fronteira Oeste, e Sul sem condição de chuva — projeta Takao.
Por isso, o volume de chuva desta semana deve ficar abaixo do registrado no fim de setembro. No entanto, o meteorologista pondera que o cenário atmosférico é dinâmico e muda constantemente, motivo pelo qual não se pode descartar uma nova semana com grande volume de chuva no Rio Grande do Sul.
— A tendência é que chova menos, até porque os volumes da semana passada foram bem elevados. É complicado mensurar e quantificar o quanto vai chover, existe a condição de temporais, mas é um pouco difícil superar a última semana. A partir de quinta-feira (3) o tempo deve ficar estável, com retorno da instabilidade a partir de domingo.
*Produção: Lucas de Oliveira