Mais de 50% das bacias hidrográficas do planeta registraram redução no volume de água em 2023, aponta relatório anual da Organização Meteorológica Mundial (OMM). Anteriormente classificado como ano mais quente da história, 2023 também foi o "mais seco para os rios do planeta" em três décadas.
Dados do Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas (C3S) indicam que a temperatura em 2023 foi 1,48ºC acima da média registrada na era pré-industrial (1850-1900). De junho a dezembro, todos os meses foram mais quentes do que o correspondente em qualquer ano anterior. A elevação da temperatura média global favoreceu outro cenário alarmante: longos períodos de seca em diversas regiões do planeta, com redução no volume de diversos rios.
Conforme o relatório, o aquecimento global – impulsionado cada vez mais pelo ser humano e somado a fenômenos naturais como El Niño e La Niña – favorece para eventos meteorológicos extremos e acelera os ciclos hidrológicos. Com atmosfera mais quente, maior quantidade de umidade é retida nas nuvens, o que propicia chuva mais volumosa, ao mesmo tempo em que acelera a evaporação da água.
— Como resultado do aumento das temperaturas, o ciclo hidrológico acelerou. Também se tornou mais errático e imprevisível, e estamos enfrentando problemas crescentes de excesso ou escassez de água. Uma atmosfera mais quente retém mais umidade, o que favorece chuvas intensas. Uma evaporação mais rápida e o ressecamento dos solos agravam as condições de seca — destacou Celeste Saulo, secretária-geral da OMM.
Com este cenário, houve um contraste entre as regiões. Enquanto algumas enfrentaram longos períodos de seca – como áreas do centro-oeste do Brasil, por exemplo – onde o nível de bacias hidrográficas ficou abaixo da média, outras foram afetas por intensas e volumosas tempestades que resultaram em inundações, como o Vale do Taquari em setembro de 2023.
As enchentes destroem, a seca desidrata. O relatório estima que 3,6 bilhões de pessoas tiveram dificuldades de acesso à água potável por pelo menos um mês em 2023. A projeção indica elevação do número para 5 bilhões até 2025.
Vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU), o estudo ainda revelou que as geleiras perderam 600 gigatoneladas de água em 2023, maior marca dos últimos 50 anos. Pelo segundo ano consecutivo houve redução de gelo em todas as regiões glaciais do mundo.
"Recebemos sinais de alerta na forma de chuvas cada vez mais extremas, inundações e secas que causam um pesado impacto em vidas, ecossistemas e economias. O derretimento de geleiras ameaça a segurança hídrica de longo prazo para milhões de pessoas. E, ainda assim, não estamos tomando as ações urgentes necessárias", alertou Celeste.