O monitoramento da qualidade do ar é insuficiente e prejudica o enfrentamento das crises climáticas no Estado, segundo especialistas consultados por Zero Hora. Para eles, o problema é antigo, mas ficou evidente por conta do cenário de municípios encobertos pela fumaça no Rio Grande do Sul.
Responsável pelo monitoramento do ar, o governo estadual tem cinco estações ativas, nenhuma delas em Porto Alegre: elas estão em Canoas, Triunfo, Gravataí, Esteio e Guaíba.
— Embora seja contínuo, o monitoramento ainda é insuficiente se considerarmos a extensão e as particularidades do Estado, como relevo e vegetação. Monitorar a qualidade do ar é essencial, assim como é importante analisar a água — diz Daiane Bolzan Berlese, professora do Programa de Pós-Graduação em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Segundo a pesquisadora, o ideal é que cada município tivesse ao menos uma estação, mas a situação seria melhorada se os equipamentos fossem instalados em pontos estratégicos, que poderiam abarcar mais de uma cidade.
Na terça-feira (10), um site suíço informou que a qualidade do ar era “insalubre” em Porto Alegre; uma avaliação similar foi feita em Passo Fundo, no Norte, na quarta-feira (11).
Déficit nacional
A falta de monitoramento da qualidade do ar é um problema verificado em outros pontos do país. Em um estudo de fevereiro, o Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema) usa estimativas do Exterior para dimensionar a lacuna.
Critérios da Europa afirmam que o país precisa de mais 138 estações de monitoramento; outra estimativa, dos Estados Unidos, é de mais 46. Atualmente, há 245 estações ativas em 13 Estados brasileiros, conforme o Iema.
— Não sabemos o que estamos respirando. Sem essa informação, não podemos orientar a população sobre as medidas que podem ser tomadas na proteção, além de não ser possível acompanhar episódios críticos e ter um acompanhamento de longo prazo — pondera Helen Sousa, pesquisadora do Iema.
Ajuda do espaço
Usar satélites para monitorar a qualidade do ar é uma opção em relação à falta de estações terrestres, segundo Alcindo Neckel, professor da Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Atitus Educação. Para a observação, o pesquisador utiliza dados do Sentinel-5, da Agência Europeia Espacial (ESA, na sigla inglês) no programa Copernicus.
— O monitoramento terrestre tem um custo elevado em todo o mundo, além de ser mais restrito. O satélite oferece uma análise macro, um registro mais preciso da poluição, do tipo, deslocamento e nível de concentração dos poluentes. É uma tendência global reduzir o número dessas estações de monitoramento terrestre — explica.
Segundo Neckel, os dados do Sentinel-5 são obtidos pela internet e tratados para a análise do comportamento do ar em determinadas regiões de interesse dos pesquisadores. Segundo ele, um dos problemas do uso é que há poucos cientistas aptos a manipular os dados no país.
O satélite da ESA não é o único a fazer esse tipo de monitoramento. Outros exemplos são o TEMPO, na Nasa, agência espacial dos Estados Unidos, e o GOES 16, da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (Noaa, na sigla em inglês). O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) também faz análises do tipo, entre elas o monitoramento da Amazônia.
O que diz o Estado
Responsável pela monitoramento do ar, o governo estadual enviou a seguinte resposta à reportagem:
A Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) informa que a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) está em constante monitoramento da qualidade do ar na Região Metropolitana. Apenas a estação de Triunfo apresentou qualidade ruim nos dias 15 e 16 de agosto. As demais estações localizadas na Região Metropolitana apresentam boa qualidade do ar, conforme Resolução Conama Nº 506/2024.