Os incêndios que têm se alastrado pelo norte e centro-oeste do país e espalhado fumaça pelo céu são frutos de ações intencionais de seres humanos. A avaliação foi feita pelo presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Mauro Pires, em entrevista à Rádio Gaúcha, nesta terça-feira (17).
— Não, não é causa natural, porque os incêndios naturais ocorrem, por exemplo, quando cai um raio, algo assim, e não é o que a gente tem observado. Então esses incêndios são provocados pelos humanos e percebemos que, em boa parte dessas unidades de conservação, os incêndios que têm chegado a elas têm uma intencionalidade — disse Pires, em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade.
As ações criminosas, segundo o presidente do ICMBio, provocam um cenário mais complicado do que no passado, pela força da seca que atinge essas regiões do país.
— Nós estamos enfrentando aqui uma seca, a maior nos últimos 70 anos, num período cheio de seca espalhada pelo território nacional. Nós temos unidades de conservação, ou seja, parques e reservas em todo o território, e uma boa parte dessas áreas protegidas está sofrendo com os incêndios — afirmou Pires.
A árdua seca que atinge parte do Brasil, segundo o ICMBio, é fruto das mudanças climáticas acentuadas pela destruição humana.
— Nós já tivemos períodos mais críticos no passado, mas sem dúvida a situação agora é extremamente pior. Por quê? Nós começamos o ano com muitas enchentes no Rio Grande do Sul. E os climatologistas estavam dizendo que toda essa água que caiu no Rio Grande do Sul, em pouco tempo, se ela tivesse seguido o fluxo normal, ela teria sido desviada para o Pantanal e Centro-Oeste. Isso teria feito com que o Pantanal e o Centro-Oeste estivessem menos secos do que estão hoje. Então, é uma situação que evidencia que as mudanças climáticas estão em pleno curso. Portanto, nós temos que mudar as nossas práticas. Não podemos continuar agindo como se a situação fosse normal — recomendou o presidente do ICMBio.
Na avaliação de Pires, as leis ambientais são brandas no Brasil e punições mais severas teriam o potencial de inibir os incêndios atualmente registrados. De acordo com ele, a Polícia Federal conduz 54 inquéritos relativos aos atuais incêndios.
— O momento exige a consciência cidadã, o engajamento de, ao ver uma queimada, procurar saber se aquilo foi provocado por alguém porque parece que, enquanto a gente não estabelecer a punição para esse tipo de comportamento, é capaz da situação ser agravada. Alguns acham que a impunidade prevalece. Se a legislação se tornar mais dura e aumentar, por exemplo, o período da prisão (dos criminosos) acredito que pode inibir esse comportamento que traz prejuízo — disse Pires.