Férias, piscina, areia, praia. O verão tem muitos encantos que são capazes de conquistar qualquer um, mas essa época do ano também traz consigo uma presença que pode ser incômoda e desconfortável: os mosquitos.
O calor tem um papel importante na proliferação dos insetos. A bióloga e doutora em microbiologia agrícola pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Flávia Montagner, especializada em entomologia (o estudo dos insetos), descreve que a relação está ancorada no metabolismo desses animais.
— Os mosquitos não têm um sistema elaborado como os humanos para controlar a temperatura, então o corpo deles tem a temperatura do ambiente. No frio, eles diminuem muito a atividade metabólica e acabam voando menos. Tendo uma atividade metabólica mais acelerada, eles acabam se reproduzindo mais — explica a pesquisadora em entrevista a GZH.
Em contrapartida, altas temperaturas podem estar acompanhadas de baixa umidade, o que também afeta o metabolismo dos mosquitos. O Culex quinquefasciatus, nome científico do pernilongo comum, precisa de pequenas concentrações de água com matéria orgânica, como poças no chão, córregos e esgotos, para depositar seus ovos. Independentemente da presença de chuvas, essas fontes de água contaminada continuarão existindo.
Já o Aedes aegypti, outra espécie comum no Rio Grande do Sul, prefere a água parada. Vasos de flores, potes de água para animais domésticos e pneus abandonados se transformam em receptáculos de larvas perfeitos. Por isso, períodos chuvosos ajudam na proliferação da espécie.
— Aqui no RS, a gente vê que nos dias frios não tem muitos mosquitos. Nos dias mais quentes, eles brotam e começam a voar. Eles não nasceram naquele momento, eles só estavam parados por conta da temperatura baixa. Assim que a temperatura aumenta, eles reaparecem — conclui Flávia.
Convivendo com pernilongos
O ciclo de vida de um mosquito pode variar conforme as condições do ambiente, como temperatura, umidade e presença de predadores, podendo chegar a 45 dias. Ao contrário do que se pode pensar, o pernilongo não precisa de sangue para sobreviver, apenas para se reproduzir.
Esses insetos se alimentam de seiva de plantas, uma mistura de água com açúcar, que dá conta da energia necessária para sua sobrevivência. No momento da reprodução, os novos ovos são produzidos a partir de proteínas – e é aqui que entra o sangue. Os mosquitos precisam picar humanos e outros animais para ingerir proteínas.
Zumbidos, picadas e coceiras tornam-se mais comuns nesta época do ano. Paulo Behar, infectologista da Santa Casa de Misericórdia e membro da Liga de Infectologia e Medicina Tropical da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), chama atenção para outro risco da convivência com os mosquitos.
– No nosso verão há aumento de mosquitos, portanto aumenta o risco de transmissão de quaisquer doenças que eles possam transmitir. As mais comuns no nosso estado são dengue, zika e chikungunya, transmitidas pelo Aedes aegypti – elucida o médico.
Para prevenir os pernilongos, a bióloga Flávia indica que o melhor é combatê-los ainda no estágio de larva, antes de começarem a voar pelo ambiente. Por isso, é necessário cuidar dos focos de água acumulada. Ela sugere o uso de proteções mecânicas como telas para janelas e berços. O inseticida deve ser usado com parcimônia: estudos já mostraram que a população de insetos pode adquirir resistência aos produtos químicos.
Quanto ao tratamento das picadas de mosquitos, Behar explica que as medidas podem variar de acordo com o caso:
– Para tratar coceira, ardência e vermelhidão vai depender da quantidade e extensão das lesões, podendo desde apenas esperar passar sem nenhuma intervenção até comprimidos de medicamentos antialérgicos e pomada, ou creme de corticoide tópico.
Produção: Caroline Guarnieri