O aparecimento de palometas (Serrasalmus maculatus) em Bom Princípio, no Vale do Caí, gerou alerta da prefeitura e preocupação de moradores. Ao chegar a novos ambientes, a espécie de piranha que é carnívora e exótica causa desequilíbrio no ecossistema, já que se alimenta de espécies nativas. Consequentemente torna os peixes mais escassos para pescadores e prejudica a economia.
— Já tinha ouvido falar na internet, fui pescar com o meu pai com milho e minhoca e ela apareceu. Foi algo novo, a gente sempre pesca e nunca tinha achado — relata o auxiliar de engenharia da prefeitura do município Gustavo Weber, 28 anos, que pescou quatro palometas no Rio Caí em 29 de dezembro, durante suas férias, entre a ponte Bela Vista e um balneário local.
Weber costuma pescar com o pai há 20 anos. Ficou intrigado ao encontrar o peixe pela primeira vez e logo comunicou à prefeitura, que emitiu um alerta à população em uma rede social na última sexta-feira, 5 de janeiro. "O ferimento deve ser lavado com água e sabão, para evitar uma infecção bacteriana. Em casos de mordidas mais profundas, recomenda-se procurar a Unidade Básica de Saúde", diz o texto.
A espécie tem se espalhado, provavelmente acreditam ambientalistas,por meio de canais de irrigação. O peixe também já foi encontrado nos rios dos Sinos e Taquari-Antas e no Guaíba. Por meio do Rio Jacuí, está chegando a áreas próximas ao Litoral, explica o presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Tramandaí, Dilton de Castro.
— A maior preocupação é de que o peixe chegue ao Litoral, onde vai afetar a economia e o turismo — afirma o especialista.
Por isso, o espalhamento da espécie invasora pelos afluentes do rio, como é o caso do Caí, preocupa. O primeiro registro de palometas nessa região ocorreu em 30 de março de 2022, quando o peixe foi encontrado em Pareci Novo, afirma o presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Caí, Rafael Altenhofen. Castro lamenta que agora, com a espécie já presente, é difícil contê-la ou até saber onde ela está.
Além de causar desequilíbrio, a palometa também pode atacar humanos, mas isto não é tão comum, afirma Castro. O peixe pode mordiscar as pessoas para testar se são comida.
Weber está em alerta, já que ele e a família costumam tomar banho no rio. Outra questão que preocupa o auxiliar de engenharia é a proximidade entre o local em que encontrou os peixes e o balneário.
No rio, ele e o pai costumavam pescar lambari, piaba, joaninha, jundiá e pintado. Mas estes dois últimos já não encontram mais. Depois de terem achado as palometas, a dupla não pescou nada mais naquele dia, além de dois peixes já comidos pela metade.
— A gente conseguia ver a palometa perseguindo os peixes na água — comenta o auxiliar de engenharia.
Sabrina Schuh, bióloga da Secretaria do Meio Ambiente de Bom Princípio, a prefeitura ainda analisa o assunto, mas deve acionar o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ou a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam).
Notificações do aparecimento da espécie podem ser feitas pelo aplicativo Invasoras RS, da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema).