Por Andrea Pampanelli
Doutora em Engenharia e Sustentabilidade, docente na UFRGS, líder dos programas de Sustentabilidade, Economia Circular e Transição Verde da Universidade de Cambridge
A realização da 28ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas, a COP28, até o dia 12, em Dubai, reforça a importância sobre o papel que as empresas têm com relação à sustentabilidade. Se os países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) debatem um plano global para eliminar gradualmente a exploração e a queima de combustíveis fósseis, cabe às empresas pensarem em como vão desdobrar esse compromisso mundial nos seus negócios.
Colocar a sustentabilidade corporativa na agenda empresarial passa necessariamente por uma abordagem estratégica. Ou a sustentabilidade está na governança e no coração da gestão, e a partir daí ela é bombeada para todos os órgãos, ou ela não existe. Precisamos, mais do que nunca, pensar os 3Ps (pessoas, lucro/profit e planeta) de uma forma sistêmica.
Olhar para dentro das organizações e inserir o ESG (em inglês, environmental, social e governance) na ordem do dia é uma questão de sobrevivência. Basicamente, o termo se refere à análise desses três fatores intangíveis nas práticas de investimentos e tomadas de decisão. Quando se fala em ESG, são considerados os chamados aspectos não financeiros da empresa, como marca, reputação e qualidade da governança e da gestão. Poderia parecer pouco, mas o ESG traduz o olhar da sustentabilidade dentro do negócio e traz à tona a discussão de que o real valor de uma empresa é de fato medido pelos seus intangíveis.
Ao olharmos para o compromisso da COP28, podemos vê-lo como um risco e, também, como uma oportunidade. Se pensarmos exclusivamente o baixo carbono como um limitante do que a empresa pode fazer, é um risco; porém, se avaliarmos a possibilidade de criação de novos negócios ou o aproveitamento de elementos que a empresa nem sabe possuir, pode ser uma oportunidade.
Mas como saber? Para começar, é fundamental que as empresas façam um inventário de carbono para medir como se dá a geração de CO2 na cadeia produtiva e, a partir daí, entender como se dá o impacto e as emissões dos escopos 1, 2 e 3, entendendo-se o escopo 1 como as emissões lançadas diretamente na atmosfera oriundas do processo produtivo; o escopo 2 como as emissões produzidas indiretamente, a exemplo das associadas à geração de energia; e o escopo 3 como as emissões pelas quais a empresa é indiretamente responsável, o que leva em consideração toda a cadeia de suprimentos.
Se o tema já era fundamental nas duas primeiras décadas do século, com a pandemia as companhias entenderam que, para se manterem vivas, literalmente falando, precisavam desenvolver um mundo com negócios mais sustentáveis. Para progredirmos nessa agenda e lidarmos com os grandes desafios da sustentabilidade, é preciso perceber que o ESG não está posto para frear o crescimento, o capitalismo e a democracia. Pelo contrário. O futuro só será possível se o analisarmos pela ótica do desenvolvimento sustentável.
Infelizmente, há ainda um grande número de empreendedores que não enxergam o potencial do ESG, um viés que precisamos abandonar e evoluir. Já para aqueles que entenderam que o tema é uma abordagem de negócio para criar valor a longo prazo, o desafio é compreender por onde iniciar o caminho da sustentabilidade – que, como tal, não existe certo ou errado, existe uma jornada a ser percorrida.
ESG é um processo evolucionário de integração das questões ambientais, sociais e de governança na gestão e estratégia do negócio. Isso possibilita pensar a longo prazo de forma estratégica com o objetivo de reduzir os riscos e maximizar o uso de oportunidades. Esse deve ser o real motivador para as empresas aderirem à agenda. Se fizermos uma analogia entre os limites físicos do planeta e o budget de uma companhia, podemos dizer que a rubrica do clima há muito estourou.
A questão que se impõe é como, no universo corporativo, podemos integrar o ESG à estratégia empresarial, efetivando-o principalmente pelas práticas de sustentabilidade, aquelas que são a base de sustentação da visão, do propósito e do valor do negócio. Desenvolver o “pensar sustentável e sistêmico na liderança” é entender que a jornada ESG está conectada com a forma que a empresa tem de promover a ética e o bem comum.