Enquanto apreciava a Lua cheia do quintal da casa onde mora, em Capão da Canoa, no Litoral Norte, Cátia Ramos percebeu, na última terça-feira (1º), um forte cheiro de marisco. O odor de vida marinha não é raro no chalé, visto que está quase à beira-mar. Contudo, a intensidade era surpreendente, se intrometendo no desfrute do cenário bucólico.
— Às vezes tem, realmente, cheiro de marisco, porque estou aqui a 20 metros da beira da praia. Mas nunca um cheiro tão forte assim — estranhou, Cátia.
Na quarta-feira (2), a moradora de Capão teve um dia agitado e pouco parou em casa. Em comum, a essência de marisco que rondava o ar de sua casa.
— Passei quase o dia todo fora, mas quando voltei para casa, seguia aquele cheiro, só um pouco mais ameno — diz.
Na quinta-feira (3) pela manhã, também agitada, Cátia deixou a casa cedo, para levar o filho ao colégio. Cumprida a missão maternal e de volta ao chalé, ela percebeu que o cheiro de marisco seguia vivo, o que já não fazia sentido pela sua experiência de 18 anos morando em Capão.
— Levei um susto, é um baita de um bicho. Era umas 9h, 9h30min da manhã. Levei o meu filho na escola, e quando voltei eu olho e tá o bicho ali! — relata.
O cheiro que Cátia sentia pelo terceiro dia seguido então teve a origem revelada. Vinha de um animal marinho roliço que havia "estacionado" no terreno baldio ao lado de seu pátio, um elefante-marinho-do-sul. Separados por um pequeno muro, ela primeiro ligou para a Patrulha Ambiental da Brigada Militar (Patram) para só depois olhar com mais atenção para o novo habitante do quintal.
— Ele estava deitado, aí eu botei uma cadeira, ele se ergueu e começou a interagir comigo. Tu não tem noção do medo que dá, porque assim, é um bicho enorme! Uns três metros. E gordo, enorme! E aí tu acha que aquele bicho, por ser enorme e gordo, vai ficar paradinho, vai no máximo se arrastar. Só que ele não faz isso! Ele se levanta e ele vem meio que se arrastando, e se apoiando com as nadadeiras frontais. E ele é rápido, muito rápido! E aquele bocão aberto! — conta.
O primeiro apelido que o novo morador ganhou foi de Leozinho – no diminutivo mesmo, apesar do corpanzil. O nome se justifica porque, inicialmente, Cátia e os vizinhos acharam que se tratava de um leão-marinho.
Foi depois da análise dos servidores da Patram e do Ceclimar — Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) — que ela descobriu que o Leozinho era um elefante-marinho-do-sul jovem que fez algo comum para este tipo de bicho: deixar o mar e buscar um lugar de descanso, na areia, nas pedras ou nas proximidades.
— E o engraçado é que ele reconhece minha voz. Eu falo e ele vira. Eu não sei se é amor ou ódio. Mas ele já me conhece — diverte-se Cátia.
Até o início da manhã deste sábado, ele seguiu lá, descansando e, com a ajuda de Cátia, teve o seu direito resguardado de guardar forças antes de enfrentar novamente o agitado mar gaúcho. Por volta das 6h, no entanto, ele voltou ao mar e seguiu a sua jornada.
Biólogo do Ceclimar, Maurício Tavares, falou a respeito do caso em entrevista à Rádio Gaúcha. Ouça na íntegra: