O ciclone extratropical, formado na tarde de quarta-feira (12), é o terceiro que afeta o Rio Grande do Sul em menos de 30 dias. O número e a frequência podem estar associados ao El Niño, em atuação neste ano, e às mudanças climáticas. É difícil prever com exatidão, mas outros dois ciclones extratropicais podem se formar até o final do mês. A boa notícia é que as chances de impacto são quase nulas.
Um ciclone extratropical é uma área de baixa pressão atmosférica, na qual os ventos giram num círculo completo, que se origina a partir de grandes contrastes de temperatura. Esses sistemas meteorológicos são comuns na costa do sul e do sudeste do Brasil e podem se formar em qualquer época do ano, mas são mais frequentes nos meses de outono e inverno.
— No inverno, espera-se que as frentes frias sejam mais frequentes no Estado e, normalmente, elas estão associadas ao sistema de baixa pressão, que é o que forma o ciclone. Às vezes, nós não sentimos o reflexo do ciclone que está no oceano, só a frente fria — explica Vanessa Gehm, meteorologista da Sala de Situação da secretaria do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul (Sema-RS).
É o que vai acontecer nos próximos eventos previstos. Segundo Vinícius Lucyrio, meteorologista da Climatempo, há possibilidade de formação de áreas de baixa pressão atmosférica entre os dias 19 e 20 de julho e, também, no dia 26 deste mês. Esses sistemas podem vir a ser outros episódios de ciclones extratropicais.
— Mas essas áreas de baixa pressão vão estar no oceano e bem afastadas da costa, então não vamos sentir nada. Esses episódios não devem causar nenhum impacto na costa gaúcha e catarinense — garante Lucyrio. Isso significa que o Estado não deve sofrer com alto volume de chuva ou fortes rajadas de vento, como nos ciclones passados.
No último mês, o Estado sofreu efeitos de um ciclone entre os dias 15 e 16 de junho, que deixou mortes e desaparecidos e causou alagamentos em algumas regiões; um pequeno ciclone no segundo final de semana de julho, com poucos impactos; e o ciclone desta quarta-feira, que provocou fortes ventanias em todo o Estado e, até então, deixou um morto.
Possíveis causas
Além do aumento da frequência de frentes frias, característico do inverno gaúcho, é possível relacionar a incidência e a intensidade do fenômeno com mudanças climáticas e, talvez, com o fenômeno El Niño. O primeiro fator, por exemplo, pode influenciar no aumento das temperaturas, condição necessária para formação de um ciclone extratropical nesta época do ano.
— Estamos em uma situação de El Niño e esse fenômeno pode aumentar o gradiente térmico da temperatura do mar entre as áreas tropicais. Essa questão também favorece a formação de ciclones extratropicais — afirma Lucyrio.
No ano passado, o fenômeno em atuação era o La Niña, que tem como característica o resfriamento das águas do Oceano Pacífico, ao contrário do El Niño. Vanessa explica que alguns ciclones extratropicais foram formados em 2022.
— Mas o La Niña amenizou os impactos. Quando o Yakecan, por exemplo, se formou, em maio do ano passado, as águas não estavam tão aquecidas, então não intensificou a passagem do ciclone — conclui Vanessa.
Os meteorologistas defendem, porém, que ainda é cedo para afirmar que existe relação direta entre o El Niño e os ciclones extratropicais que vêm acontecendo. Ainda, a previsão é de que áreas de baixa pressão atmosférica continuem sendo formadas em agosto, podendo formar ciclones, mas com baixas chances de impacto direto no Rio Grande do Sul.
*Produção: Yasmim Girardi