Um grupo de 18 capivaras, que estava instalado há cerca de três anos no Clube dos Jangadeiros, na zona sul de Porto Alegre, foi transferido para uma propriedade rural de Itapuã, em Viamão, na tarde dessa segunda-feira (5). A mudança teve como principal objetivo garantir a segurança e o bem-estar dos animais silvestres e dos frequentadores do local.
De acordo com Pedro Antonio Pesce, ex-comodoro e conselheiro do Clube dos Jangadeiros, a primeira capivara apareceu no local em 2020, bem no início da pandemia de coronavírus. Logo depois, chegou a segunda. Os animais começaram a se reproduzir e formaram uma grande “família”, que seguiu vivendo na área. No momento da transferência, eram 11 filhotes e sete adultos.
— Elas caminhavam pela Ilha dos Jangadeiros, que tem fauna e flora muito intensas, sem problema nenhum. Ficavam ali caminhando, deitadas tomando banho de sol, e a gente ficava admirando. Conviviam com a gente sem problemas, não se aproximavam, mas também não se surpreendiam com o movimento — conta Pesce.
O ex-comodoro explica que, desde então, vem buscando autorização dos órgãos responsáveis para retirar as capivaras do clube, devido ao risco de possíveis acidentes envolvendo as crianças que frequentam o local e os filhotes. Neste ano, contratou a empresa Athena, especializada no manejo de animais silvestres, para ajudá-lo no processo.
Segundo a bióloga Patrícia Martins Valentim, responsável pela transferência das capivaras, foi preciso contatar a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade de Porto Alegre (Smamus) de Porto Alegre e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para remover os animais do clube. O trabalho com o grupo iniciou há cerca de 90 dias, a partir de reuniões e conversas com frequentadores, com o objetivo de obter um histórico do período em que viveram no local.
Depois, os profissionais da Athena passaram a monitorar os animais para avaliar o comportamento do grupo e montar um plano de ação. A partir disso, começaram a “treinar” as capivaras para que pudessem se preparar para o deslocamento até Viamão, comenta a médica veterinária Isadora Luzza Favreto, contratada pela empresa:
— São animais silvestres, então não estão acostumados com o manejo. Por isso, fizemos um condicionamento e acompanhamento antes para eles não ficarem tão estressados no momento da transferência. Montamos uma estrutura para condicionar todo o grupo junto, colocamos todos para dentro e, depois, fizemos com que elas entrassem no caminhão para levar ao local de soltura. E chegaram bem, sem nenhum estresse ou lesão.
Antes da soltura, as capivaras foram microchipadas, conforme exigido pelos órgãos ambientais, para fins de acompanhamento, monitoramento e estudo. Patrícia afirma que a intenção era levar os animais para o ambiente mais adequado possível, o que motivou a escolha pela propriedade privada em Viamão, já que em Porto Alegre não há nenhuma área que não seja tão urbanizada.
— O Lami apareceu como sugestão, mas é um local que está super urbanizado, tem muitas pessoas morando lá. Dentro do clube, as capivaras estavam seguras, ninguém estava fazendo mal, no Lami elas ficariam muito desprotegidas, se soltasse próximo de casas, daria problema — diz a bióloga.
Com uma área de 200 hectares, a fazenda que recebeu os animais está localizada ao lado do Parque Estadual de Itapuã, que é uma área de preservação ambiental, destaca a proprietária Desireé Möller, que também é veterinária e presidente da Associação Sulina de Criadores de Búfalos (Ascribu). No local, as capivaras têm acesso livre ao Guaíba, e menos contato com seres humanos. Assim, elas podem ir para outras regiões, se assim desejarem.
Logo que chegaram à fazenda, os animais caminharam pela propriedade e foram tomar banho no rio.
— Elas desceram do caminhão e foram caminhando em fila, com calma, bem organizadinhas. Foram indo em direção ao rio naturalmente, entraram na água e saíram nadando. Toda área de costa aqui é de floresta nativa, então, em seguida, não vimos mais elas. É a primeira vez que recebemos animais, mas aparecem muitos aqui, porque além de criar búfalos, plantamos arroz orgânico — comenta Desireé.