Pesquisadores norte-americanos descobriram, por meio de sequenciamento genômico, o primeiro caso de partenogênese — ou seja, reprodução sem fecundação por um macho — em uma fêmea de crocodilo. O fenômeno foi observado em 2018 em um zoológico da Costa Rica e o estudo foi publicado nesta quarta-feira (7), na revista científica Royal Society, por um grupo de pesquisadores do Instituto Politécnico da Virgínia e da Universidade de Tulsa, nos Estados Unidos.
Embora viva isolada de outros crocodilos há aproximadamente 16 anos, a fêmea do réptil conseguiu produzir sozinha um feto que é 99,9% idêntico a ela, o que indica que não houve presença de outro DNA. Esses dois fatos foram cruciais para confirmar que o crocodilo não manteve relações sexuais com outros da mesma espécie.
Segundo a equipe envolvida no estudo, o que ocorreu foi um fenômeno biológico chamado de parto virgem ou partenogênese facultativa. Esse tipo de reprodução assexuada (sem ocorrência de fecundação) já foi observado e descrito em outros estudos envolvendo casos de peixes, pássaros e até de outros répteis, mas até então nunca tinha sido observado em crocodilos.
Quando o animal formou o ovo, em janeiro de 2018, foi constatado que dentro dele havia um crocodilo recém-formado, mas seu ciclo de desenvolvimento não se completou, ou seja, o ovo não eclodiu e o réptil morreu. Conforme os estudiosos, não é incomum que isso ocorra nesse tipo de reprodução. "Isso não deve ser visto como um indicativo de que todas as partenogêneses de crocodilos serão não-viáveis", ressaltou a equipe, na publicação.
O estudo também apontou que o fato de essa fêmea de crocodilo e outras espécies de animais terem se reproduzido por partenogênese sugere que essa habilidade reprodutiva tenha sido herdada de um ancestral comum. Os acadêmicos também ressaltaram que é provável que os próprios dinossauros também tivessem a capacidade de se reproduzirem sozinhos.
O que pode explicar o fenômeno
Para a realização do estudo, a equipe contou com o apoio e suporte de Warren Booth, pesquisador especialista em parto virgem. Segundo Booth, pode ser que já tenham ocorrido muitos outros casos de partenogênese em crocodilos, mas que não foram observados porque até então não houve interesse das pessoas em investigar o assunto mais a fundo.
Uma das teorias de Warren é de que esse tipo de reprodução assexuada acontece em populações de baixa densidade, ou seja, que estão à beira da extinção. Em razão disso, para que a espécie se perpetue, os animais recorrem a esse mecanismo. Isso vai ao encontro do caso do crocodilo-americano, espécie que é considerada como vulnerável e com risco de se extinguir.
Outra hipótese é de que o fato desse crocodilo viver isolado possa ter sido um fator estimulante para a ativação do mecanismo. "Não é incomum que répteis em cativeiro coloquem ninhadas de ovos, dado o período de isolamento dos parceiros, estes normalmente seriam considerados inviáveis e descartados. Essas descobertas, portanto, sugerem que os ovos devem ser avaliados quanto à viabilidade potencial quando os machos estão ausentes", diz trecho do estudo.
Os crocodilos-americanos habitam águas frescas, mares, manguezais, foz de rios e lagos de sal. Eles podem ser encontrados nas ilhas do Caribe, nas Grandes Antilhas, na Colômbia, no Equador, no sul do México e na Costa Rica, onde há mais abundância desse réptil.