O avanço das palometas pelas águas do Rio Grande do Sul é uma realidade apontada por especialistas e pescadores nos últimos anos. Encontrar esses peixes nas águas do Guaíba tornou-se uma realidade em 2023. Com isso, pesquisadores passaram a focar sua atenção em encontrar e entender melhor o comportamento das palometas na região. É o caso do professor da Escola de Ciências, da Saúde e da Vida da Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS), Roberto Reis.
Nos últimos meses, ele tem monitorado a espécie e elaborou um projeto de pesquisa sobre o assunto. A proposta de estudo foi criada junto do pesquisador ictiólogo da PUCRS Pablo Lehmann, especialista que já catalogou mais de 40 espécies exóticas na América do Sul. A intenção é mapear onde as palometas estão e por onde estão chegando, identificar e enumerar os danos socioeconômicos e ambientais da expansão da espécie, além de monitorar esse crescimento e estabelecer ações mitigadoras, ou seja, para tentar reduzir os prejuízos.
Nesta terça-feira, (23), a reportagem de GZH acompanhou o trabalho de monitoramento dos pesquisadores. A bordo de um barco no Guaíba, o destino foi a região do Pontal do Estaleiro, onde pescadores já encontraram a espécie.
Com uso de redes e varas de pesca, os professores procuraram pelas palometas durante a manhã. Os materiais são autorizados para pesquisa pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio. Todos os peixes coletados foram devolvidos para a água depois da identificação, sem prejuízo aos animais.
Apesar do esforço, nenhuma palometa foi encontrada. Mesmo assim, vestígios foram percebidos pelo professor Reis: peixes apresentavam mordidas nas barbatanas.
— Não é comum que outras espécies maiores façam isso. É bem provável que essa marca de mordida seja de piranha — afirma.
Próximo do local escolhido para o estudo, pescadores artesanais utilizavam a plataforma do pontal para apoiar as varas de pesca. De longe, sinalizaram para a reportagem que, até o momento, não tinham encontrado palometas. Recentemente, um vídeo circulou pelas redes sociais com um pescador que encontrou quatro animais da espécie em um mesmo dia no local.
Devido aos estudos já realizados no Guaíba, a dupla de pesquisadores acredita que as palometas da Região Metropolitana não são mais migratórias, ou seja, já estão se reproduzindo no local.
— As que aparecem no Guaíba são de uma população que já está estabelecida. Essas piranhas que estão aqui, nasceram aqui — avalia Reis.
Litoral Norte
Conforme os pesquisadores, de 10 espécies de peixes exóticos que já existem no Guaíba, três já foram parar nas lagoas costeiras. Logo, a transposição da palometa, neste caso, seria questão de tempo. Hoje, já há confirmação delas nas bacias dos rios Caí, Sinos, Taquari-Antas e Lago Guaíba, além de elas terem se espalhado pela Lagoa dos Patos – no total, são ao menos sete bacias invadidas em menos de dois anos.
Também há estes animais avistados perto da região das lagoas do Casamento e Capivari, na zona nordeste da Lagoa dos Patos, segundo pescadores e moradores da região ouvidos por GZH.
— Está na hora de fazermos algo quanto a isso. Agora, ela está se espalhando, mas depois pode ser pior. Estamos falando do risco dela atingir empreendimentos imobiliários náuticos nas lagoas costeiras. Isso pode ser perigoso e gerar um dano econômico também — explica Lehmann.
Além da palometa (Serrasalmus maculatus), outros quatro tipos de peixes exóticos foram pescados por um pesquisador em um único dia, conforme o professor Reis. A lista inclui as espécies Porrudo (Trachelyopterus lucenai), Corvina de rio (Pachyurus bonariensis), Dentudo (Acestrorhynchus pantaneiro) e Biru (Steindachnerina brevipinna).