O estudo de impacto ambiental para a construção de uma ponte ligando Imbé a Tramandaí deve ser entregue até o final de junho. A informação é do biólogo da prefeitura de Imbé, Pedro Terra Leite. Segundo o profissional, no entanto, ainda não há um projeto definitivo para a construção.
— Tudo isso tem que ser analisado no decurso do processo de licenciamento ambiental. É óbvio que essas particularidades serão levantadas nos estudos, diagnóstico, prognóstico e medidas mitigadoras. Isso tudo vai ser analisado para a Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental) e conversado com a prefeitura. — analisa.
O biólogo acrescenta que é necessário preservar a atividade dos pescadores da região, mas manter a proposta de uma ponte. Ele destaca que o impacto no ecossistema será discutido em qualquer projeto.
A instalação da estrutura entre Imbé e Tramandaí causa preocupação entre pesquisadores que estudam a pesca cooperativa entre pescadores e botos na Barra do Rio Tramandaí, que separa as duas cidades do Litoral Norte. A atividade envolve os trabalhadores da região e os botos "trabalhando juntos" para capturarem as tainhas.
A antiga ponte, Giuseppe Garibaldi, tem problemas estruturais e registra congestionamentos no verão. Atualmente, existem duas possibilidades para construir uma nova ponte. Uma delas pela Barra do Rio Tramandaí, que é onde ficam os botos. Seria uma ligação entre as duas cidades com vias de ida e volta. O outra é maior e mais cara, pela Lagoa Tramandaí.
O professor Ignacio Moreno, que atua no Campus Litoral Norte da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e no Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar), teme que a ponte afaste os animais.
— O boto-de-Lahille é uma espécie extremamente rara e se considera que não haja 600 animais adultos. Por isso, é uma espécie considerada ameaçada de extinção. A gente tá achando melhor discutir mais, buscar outras alternativas, como por exemplo a ponte que já existe. — diz Ignacio Moreno, que coordena o projeto Botos da Barra.
Presença é tradicional
No local, pescadores atuam há muitos anos, com ajuda dos animais. Alguns botos ganharam até nome:
— Devido ao jeito deles, a gente consegue identificá-los. A Geraldona é a mais identificável, é a mãe de todos os botos, quando a Geraldona entra na Barra é sinal de muito peixe — celebra o pescador Roberto da Silva Borges.
O catálogo do projeto Botos da Barra indica que, de forma frequente, a barra do Rio Tramandaí é habitada por 13 botos, dos quais oito são descendentes de Geraldona. Ela tem cinco filhos —Rubinha, Chiquinho, Ligeirinho, Flechinha e o caçula Furacão — e três netos. Os pesquisadores identificam os animais pela nadadeira dorsal, que funciona como impressão digital pela existência de cortes e marcas únicas.