A nova série da HBO Max, The Last of Us, é uma adaptação do jogo homônimo, lançado em 2013. A trama relata uma pandemia fúngica, causada por uma mutação do cordyceps, que, na série, pode infectar humanos e transformar os corpos e mentes dos infectados. Fora das telas, o fungo é capaz de infectar apenas artrópodes, como formigas e lagartas, por exemplo.
O que é o fungo zumbi de The Last Of Us?
O cordyceps é um fungo que se caracteriza por produzir esporos (unidades de reprodução) dentro de ascos, que são pequenos saquinhos onde essas unidades ficam contidas até serem liberadas.
O fungo infecta os hospedeiros por meio dos esporos. A veterinária e micologista responsável pelo Laboratório de Micologia Veterinária da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Angelita dos Reis Gomes, explica que, após infecção, o fungo começa a desenvolver hifas, que fazem com que o hospedeiro se isole.
O fungo escolhe e conduz o hospedeiro para um local com condições de temperatura e umidade ideais. No caso da formiga, Angelita conta que o cordyceps faz com que ela seja expulsa do ninho, se direcionando até a parte inferior de uma folha.
— Quando a formiga morde essa folha, ela fica pendurada até a morte. Após a morte, o cordyceps coloniza rapidamente a formiga, se desenvolvendo por cerca de duas semanas até iniciar o processo de reprodução — acrescenta.
O intuito do fungo é se espalhar para sobreviver, aumentando a presença do microrganismo na natureza. É isso que difere os infectados de The Last of Us de outras tramas com zumbis, nas quais os infectados se alimentam de carne humana.
A botânica, paleontóloga e professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Nelsa Cardoso afirma que há mais de 600 espécies de cordyceps no mundo, sendo mais fácil encontrá-las em florestas tropicais. Segundo ela, os principais hospedeiros são formigas, mariposas e larvas.
— Na série, a pessoa infectada fica desconfigurada, com coisas saindo da cabeça. É assim que o cordyceps ocupa o fogo das formigas, paralisando o sistema nervoso e saindo pela cabeça. O fungo controla o cérebro e o movimento muscular do hospedeiro. Ele assume o controle, como se fosse uma nave — relata.
O fungo pode infectar humanos?
Por um lado, as especialistas garantem que não há registros de mamíferos infectados pelo fungo. Por outro, elas ressaltam que não se pode prever que uma mutação como a que acontece na série jamais ocorrerá, uma vez que a evolução adaptativa dos fungos é constante.
— A chance de ocorrer uma infecção em mamíferos nos próximos séculos é remota, senão improvável. Um salto evolutivo dessa natureza levaria milhares de anos para ocorrer. E quando consideramos infecções, é necessário um alinhamento perfeito de condições da tríade agente infeccioso, hospedeiro e meio ambiente — tranquiliza Angelita.
Na trama, os personagens cogitam que a mutação do fungo possa ter se misturado com a comida, em algum ingrediente simples, mas que poderia estar em diferentes composições, como a farinha, por exemplo.
— Em relação ao hospedeiro, teríamos que considerar a alta complexidade do sistema nervoso de um mamífero em comparação com um inseto, além da temperatura mais elevada do corpo dos mamíferos, que nos ajuda na proteção de várias infecções fúngicas. Já sobre o fator meio ambiente, a série explica de forma didática o que pode vir ocorrer, e o que já observamos em outras doenças emergentes e reemergentes influenciadas pelas mudanças climáticas — completa a veterinária.
Produção: Yasmim Girardi