Em 2006, o Rio dos Sinos foi palco de um desastre: em outubro daquele ano, a combinação entre baixa vazão do rio, contaminação por esgoto doméstico e a carga de chorume lançada por uma empresa causou uma das maiores tragédias ambientais do Rio Grande do Sul. Estima-se que, naquele momento, cerca de 90 toneladas de peixes tenham morrido em decorrência dessa união de fatores.
Na quinta-feira (14), a reportagem de GZH participou de visita técnica em um trecho do Rio dos Sinos, entre São Leopoldo e Canoas, em atividade comemorativa pelos 15 anos do Consórcio Pró-Sinos. Prefeitos, secretários e profissionais da área ambiental de municípios que integram a Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos compareceram à visita.
O Pró-Sinos tem 28 municípios e foi criado para evitar novos desastres ambientais na Bacia do Rio dos Sinos. Esse objetivo foi atingido: até o momento, nenhum episódio parecido com o de 2006 foi registrado.
No entanto, o rio está distante de atingir outras metas, como a melhora da qualidade da água na maioria dos pontos. No último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a situação dos rios no país, de 2015, o Sinos ficou no quarto lugar entre os mais poluídos do Brasil.
Um trabalho desenvolvido pelo Pró-Sinos confirma o cenário em vários pontos. Chamado de Monitoramento Espacial, o programa coleta, desde 2020, amostras mensais de 24 pontos da bacia para avaliar a qualidade da água.
O consórcio criou um mapa no qual é possível acompanhar a situação dos locais. No material há apenas cinco pontos verdes, onde o Índice de Qualidade da Água (IQA) é considerado "bom": nos municípios de Caraá, Catanduva (em Taquara), Riozinho, Rolante e Canela, de acordo com a última atualização, de junho.
O IQA é o principal indicador usado no país para avaliar a água e é composto por nove parâmetros, entre eles a temperatura da água, a presença de coliformes e de fósforo. Os locais verdes estão em áreas do chamado alto Sinos, em pontos que chegam até mil metros de altitude. A situação piora quando o rio "desce" e chega aos municípios localizados poucos metros acima do nível do mar, como é o caso da região metropolitana de Porto Alegre. Assim, é possível notar um padrão na qualidade da água avaliada a partir do curso do rio, de acordo com Hener de Souza Nunes Júnior, diretor-técnico do consórcio.
— A água é pura, límpida, nas nascentes, mas, à medida que passa nos núcleos urbanos, a qualidade dela vai caindo porque todos os municípios hoje jogam esgoto não tratado no rio. Quando chega no baixo Sinos, a água está em uma qualidade muito ruim. Isso ocorre na região mais populosa — afirma.
Dos pontos monitorados na Região Metropolitana e Vale dos Sinos não há nenhum com IQA bom; nos melhores resultados, nesses locais, a qualidade da água é definida como regular. A maioria recebe avaliações de ruim e muito ruim. Em nenhum dos 24 locais monitorados pelo consórcio a água é considerada ótima, que seria a melhor "nota" na classificação.
O diretor-técnico diz que, de forma geral, a água fornecida na região é de boa qualidade, mas torna-se cara, para empresas, deixá-la potável devido à poluição. Isso ocorre porque, hoje, os grandes "inimigos" do Sinos são os cursos de água das cidades com maior população, que recebem lixo e esgoto doméstico sem o tratamento adequado.
— A poluição chega ao Rio dos Sinos através dos arroios. Hoje não existem indústrias na beira do rio largando dejetos e os esgotos das cidades não chegam pelo rio. O Sinos é resultado final da poluição desses arroios — explica.
O diretor-técnico cita exemplos de trechos considerados críticos na região: Arroio Pampa e Arroio Luiz Rau, ambos em Novo Hamburgo, e Arroio João Correa, em Estância Velha. Trinta municípios têm parte ou a totalidade de seus territórios na bacia do Rio dos Sinos, que impacta, ao todo, cerca de 2,1 milhões de pessoas.
Futuro do rio
Além do monitoramento da água, o objetivo do consórcio é atuar em questões ambientais, fiscalização e elaboração dos planos de saneamento básico dos municípios participantes. O presidente do Pró-Sinos e prefeito de Esteio, Leonardo Pascoal, entende que o Pró-Sinos colocou as questões do rio e do saneamento básico na pauta dos municípios. Nos quase 15 anos de existência, segundo ele, o consórcio tem atuado para que o debate sobre a necessidade de cuidado com a água permeie a sociedade e faça parte da cultura de discussão, para reforçar o fato de que o rio é um elemento fundamental para as cidades da região.
— O saneamento básico nunca foi algo discutido, levado como uma prioridade efetiva, embora tenha um impacto grande na qualidade de vida das pessoas. É um tema complexo, é difícil fazer um debate amplo, democrático e plural. As pessoas têm dificuldades de entender os reflexos do que é feito e do que não é feito no saneamento. O investimento em outras áreas é visível, no saneamento, não — diz.
O prefeito de Esteio entende que os problemas dos municípios da Bacia do Sinos são comuns, e, por isso, foi natural a atuação na forma de um consórcio para a troca de experiência. Para os próximos anos, objetivo do Pró-Sinos é atuar para que os consorciados atinjam as metas do Novo Marco Legal do Saneamento. A lei federal quer fazer com que 99% da população brasileira tenha acesso à água potável e 90% ao tratamento e coleta de esgoto até 2033. Pascoal entende que a legislação é uma forma de colocar o tema como prioridade no país.
— Ele (o marco) estabelece que o saneamento tem que estar na mesa de discussão, porque tem metas e prazos para universalizar o serviço de saneamento básico. Como é complexo e demanda investimentos bilionários, é algo que não dá para começar a pensar 2032. Quem sabe, nos 25 anos do Pró-Sinos, com a universalização (do saneamento), vamos observar a melhoria da qualidade da água do Rio dos Sinos — conclui.