A tempestade que destelhou centenas de casas e deixou milhares de residências sem energia elétrica na segunda-feira (7) em Esteio e outros municípios da Região Metropolitana fez um longo trajeto até chegar ali. Essas ondas atmosféricas vieram da Argentina e passaram por todo o Rio Grande do Sul, mas encontraram naquela região as condições ideais para a formação de um temporal.
Segundo o professor Vagner Anabor, do curso de Meteorologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o fenômeno não se tratou de uma frente fria, e sim de ondas que formaram nuvens em todo o Rio Grande do Sul e em regiões como a Metropolitana e a Central encontraram o calor e a umidade que forneceram a energia necessária para criar a tempestade.
— Quando esses sistemas meteorológicos interagiram com as barreiras de relevo na subida da Serra e na região dos cânions, isso fez com que houvesse uma maximização das condições necessárias para a tempestade existir — explica Anabor.
O relevo fez, ainda, com que as ondas atmosféricas se deslocassem rapidamente do litoral para Santa Catarina, onde também causaram tempestades, e para o Paraná. Lá, se dissiparam.
Anabor destaca que a localização geográfica do RS é propícia à formação de tempestades, devido a sua latitude média e a proximidade com a Cordilheira dos Andes, que provoca ondulações nas ondas atmosféricas. Somadas à umidade e ao calor trazidos pela corrente vinda da região amazônica, as condições se tornam ideais para os temporais.
— Nossa área da Bacia do Prata, que envolve o Norte da Argentina, o Sul do Brasil e o Paraguai, é a segunda região do mundo em ocorrências de tempestades severas, atrás somente da planície central dos Estados Unidos — pontua o professor.
Os temporais são mais frequentes ao longo da primavera e do verão no Rio Grande do Sul, conforme Anabor. Por isso, o docente questiona a não existência de um centro de monitoramento meteorológico no Estado, que permitiria que situações com essa fossem identificadas com antecedência e medidas de prevenção a estragos e mortes fossem tomadas.
— A existência de monitoramento meteorológico não previne secas nem a ocorrência de tempestades, mas oferece informações para mitigarmos efeitos tanto materiais, em setores como a agricultura, bens e propriedades, mas principalmente com relação à preservação de vidas – defende o professor.
Para esta quarta-feira (9), ainda há risco de temporais no RS, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Pode haver rajadas de vento de até 100 km/h e queda de granizo em parte do Estado, incluindo Norte, Noroeste, serra gaúcha, Região Central e Região Metropolitana. Áreas da Fronteira Oeste, Campanha e Sul também podem ser afetadas.