Os especialistas da ONU sobre o clima (IPCC) voltam a apresentar nesta segunda-feira (28), em seu novo relatório, uma imagem catastrófica dos impactos que espreitam a humanidade com uma mudança climática que se acelera apesar dos apelos reiterados a reduzir rapidamente as emissões de gases de efeito estufa.
Após duas semanas de negociações online e a portas fechadas que se estenderam mais de um dia além do planejado, o IPCC revelará na manhã desta segunda-feira um "resumo para tomadores de decisão" revisado linha por linha, palavra por palavra, pelos 195 Estados-membros, e que é uma espécie de síntese politicamente sensível das milhares de páginas do relatório científico elaborado por 270 cientistas de 67 países.
Mesmo que a publicação corra o risco de ser ofuscada pela invasão da Ucrânia, "o relatório tem que ir além da questão das primeiras páginas dos jornais", disse Stephen Cornelius, observador das negociações para a ONG WWF. "Vai sustentar as políticas internacionais e nacionais nos próximos 6 ou 7 anos", até o próximo ciclo de avaliação do IPCC, acrescentou.
"Suas conclusões serão de suma importância para quem toma decisões no mundo inteiro", insistiu também o presidente do IPCC, Hoesung Lee, durante uma rápida exposição pública para o lançamento da sessão, em meados de fevereiro. "As necessidades nunca foram tão importantes porque os desafios são maiores do que nunca".
"O futuro é agora", afirma, por sua vez, Alexandre Magnan, um dos autores do relatório.
Extremos do tempo serão mais comuns
A temperatura do planeta aumentou, em média, +1,1 °C desde a era pré-industrial, e o mundo já vê diante de seus olhos em quase todos os continentes as catástrofes em ação. Como ocorreu no ano passado com os terríveis incêndios no oeste dos Estados Unidos, na Grécia ou na Turquia, as chuvas torrenciais que inundaram regiões da Alemanha ou da China ou as altas temperaturas que beiraram 50 ºC no Canadá.
E estes fenômenos meteorológicos extremos vão se tornar cada vez mais frequentes com a continuação do aquecimento global.
Na primeira parte de seu relatório, publicado em agosto passado, os especialistas do IPCC estimaram que em 2030 - ou seja, dez anos antes do que se pensava - a temperatura atingiria o limite de +1,5 °C, a meta mais ambiciosa do Acordo de Paris.
Antes de um terceiro capítulo previsto para abril sobre as soluções para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, o segundo, publicado nesta segunda, se concentra nos impactos do aquecimento global e na forma de se preparar para limitar os riscos, a chamada "adaptação".
O texto deve enumerar as consequências presentes e futuras em todos os continentes e em todos os seus aspectos: saúde, segurança alimentar, escassez hídrica, deslocamento de populações, destruição de ecossistemas. Também vai avaliar o estado da nossa preparação para estas consequências devastadoras, mencionando as medidas de adaptação e alertando para aquelas que teriam um impacto contraprodutivo.
"Adaptar-se é uma necessidade vital. E o que é muito vital é tornar a adaptação muito ambiciosa", afirma Alexandre Magnan. Permanecerão, apesar de tudo, riscos "inevitáveis", continua, mesmo se o mundo conseguir respeitar as metas do Acordo de Paris, bem abaixo dos +2 °C, se possível, +1,5 °C.
Mas se for levado em conta que cada décimo de grau de aquecimento conta, estes riscos residuais serão mais frágeis se limitaremos o aumento da temperatura.
É por isso que "a adaptação e a redução das emissões têm que andar de mãos dadas, devem unir suas forças contra as mudanças climáticas para um futuro sustentável", pediu recentemente Hans-Otto Pörtner, copresidente do grupo do IPCC que preparou o relatório.
Diante da lista de catástrofes e da necessidade de reduzir as emissões em cerca de 50% até 2030 para não ultrapassar o +1,5 °C, o mundo prometeu na conferência sobre o clima da ONU COP26, em Glasgow, realizada em novembro, acelerar a luta contra o aquecimento global e financiar mais medidas de adaptação.
Para as ONGs e a ONU, isso não é o bastante. Neste contexto, há um apelo aos países para que reforcem suas ambições com vistas à COP27, no Egito, em novembro próximo.