Nos últimos dias, o entardecer e o nascer do sol em várias cidades gaúchas – e também de outros Estados – têm sido tingidos de tons fortes de laranja, vermelho, rosa e púrpura, rendendo imagens impressionantes e dando o que falar nas redes sociais. Na manhã desta quarta-feira (2), por exemplo, o céu de Porto Alegre e de Cidreira, no Litoral Norte, estava mais colorido do que o habitual, com a tonalidade laranja ganhando destaque.
A explicação para a paleta de cor realçada tem dois motivos principais: os incêndios registrados em países vizinhos, como Argentina e Paraguai, e os efeitos da nuvem de dejetos expelida para atmosfera na erupção do vulcão submarino Hunga Tonga-Hunga Ha'apai – localizado no Pacífico Sul próximo a Tonga, na Oceania.
Segundo a meteorologista da Climatempo Daniela Freitas, o tempo seco e quente dos países vizinhos tem favorecido o aumento de queimadas e o deslocamento de partículas para o Rio Grande do Sul. Para se ter uma ideia, entre 1 de janeiro e 1 de fevereiro de 2021, a Argentina registrou 695 focos de incêndio, número que subiu para 7.421 neste ano. Já o Paraguai teve 279 focos no mesmo período do ano passado, mas já registra 4.069 este ano.
– A fuligem que veio do vulcão tem favorecido o espalhamento da luz e, esse céu bonito que estamos vendo, também tem relação com o material que está vindo dos países vizinhos. O vento transporta todas essas partículas e essa poluição para o Rio Grande do Sul – explica Daniela.
Ocorrida em 15 de janeiro, a erupção do vulcão em Tonga tem gerado efeitos no Brasil desde o dia 26, pelo menos. Ventos que sopram de Leste para Oeste, trouxeram partículas aerossóis liberadas durante a explosão, provocando o céu mais colorido em várias cidades brasileiras. Conforme afirma a meteorologista da Climatempo Fabiene Casamento, o fenômeno também já foi visto no Rio de Janeiro, São Paulo, Espirito Santo, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina. E agora, é a vez do Rio Grande do Sul.
Mas por que fica colorido?
As cores do céu são ressaltadas porque o gás dióxido de enxofre, ao ser expelido pelo vulcão rapidamente se transforma em sulfatos, partículas que vão aos poucos se depositando nas camadas mais baixas da atmosfera. É a interação da luz do sol do amanhecer e do entardecer com essas partículas de sulfatos suspensas na atmosfera que dá a coloração especial.
Para entender o fenômeno, explica Fabiene, é preciso saber que a luz branca do sol é um resultado da soma de sete cores — vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta. Quando a luz solar atravessa a atmosfera e entra em contato com partículas de ar, cores como a violeta, o azul e o verde se dissipam mais, a ponto de ficarem imperceptíveis, enquanto outras, como o laranja e o vermelho, aparecem mais.
Soma-se a isso o fato de que, quando o sol nasce ou se põe, as luzes solares ficam mais perto do chão e atravessam um caminho bem maior da atmosfera — se comparado, por exemplo, ao sol do meio dia —, colidindo com obstáculos como névoa e poluição. Agora, colisão é com os aerossóis oriundos do vulcão e dos incêndios.
Nesta colisão, cores como o verde e o azul se perdem e outras se estão se espalhando mais, como as luzes vermelha e laranja. É por isso que estamos vendo o céu em tons impressionantes. No entanto, o fenômeno só pode ser observado em dias de céu sem nuvens. Segundo a Climatempo, é possível que estas cores sejam observadas em vários dias no decorrer de fevereiro.