Vagando por entre a lama e as cinzas, os habitantes das aldeias localizadas ao pé do vulcão Semeru, na Indonésia, tentavam neste domingo (5) recuperar os poucos bens que restaram após a erupção no último sábado.
Pais com seus filhos traumatizados, idosos com colchões nas costas. Agricultores com suas cabras nos braços, vivas por um milagre. Depois da erupção apocalíptica, todos estão chocados e vagueiam de um lugar para outro, numa aldeia reduzida a nada.
— De repente, o céu escureceu e então veio a chuva e nuvens ardentes — conta Bunadi, um residente da vila de Kampung Renteng, no leste de Java, que diz ter ficado surpreso com a erupção de uma "lama ardente".
A poderosa erupção causou mais de uma dúzia de mortos e numerosos feridos.
As cabanas que compõem o povoado foram arrastadas por enxurradas de lama em chamas e uma chuva de cinzas e escombros, obrigando centenas de famílias a fugir da área sem poder levar nada consigo. Muitos perderam suas casas.
Refugiadas em uma mesquita, várias mães esperam sentadas no chão, ao lado de seus filhos, dormindo. Tiveram sorte e conseguiram escapar do cataclismo que enterrou vilas inteiras sob as cinzas.
As operações de resgate continuam, mas os habitantes, desesperados, se arriscam a retornar às suas aldeias, apesar do risco que isso acarreta para a sua saúde, com a ideia de recuperar o que for possível.
Em uma casa de Lumajang, pratos, caçarolas e tigelas esperam na mesa, como se o jantar estivesse para ser servido. Mas, em vez de comida, cinzas vulcânicas.
Arrastados pela lama
Alguns moradores contam os parentes desaparecidos.
— A torrente de lama levou 10 pessoas embora — diz Salim, outro morador de Kampung Renteng. — Um deles poderia ter escapado. Gritamos para ele correr, mas ele respondeu: "Não quero, quem vai alimentar minhas vacas?".
Não muito longe dali, em Sumber Wuluh, os telhados das casas mal se projetam do solo, o que dá uma ideia do volume de lama que inundou a aldeia em muito pouco tempo.
Há vacas mortas no chão e, embora alguns animais tenham conseguido sobreviver, muitos estão mutilados, em carne viva, queimados pela lava. Um sobrevivente, com um cigarro entre os lábios, foi resgatado por socorristas, cujo uniforme laranja se destaca em uma paisagem cinza-escura que quase parece o inferno.
Sentado nas cinzas, um grupo de vizinhos de Sumber Wuluh olha para a cratera do Semeru, de onde a fumaça continua a emanar.
No meio das árvores queimadas e desfolhadas e das casas e veículos enterrados pela lama, são, juntamente com os poucos animais que os rodeiam, os únicos sinais de vida num panorama de morte e desolação.