A neve que esbranquiçou pelo menos 29 municípios gaúchos na quarta-feira (28) não é um fenômeno tão comum no Rio Grande do Sul. Ainda assim, conforme levantamento da Somar Meteorologia, baseado nas estações convencionais do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), de 2002 até agora foram cem ocorrências no Estado, sendo em maior quantidade no mês de agosto. Segundo os dados, apenas 2014 não registrou o fenômeno – todos os demais anos tiveram ao menos uma ocorrência.
Cenário semelhante ao testemunhado nesta quarta-feira (28) por milhares de gaúchos e turistas aconteceu lá em 2013. Entre a noite de 26 de agosto e a manhã do dia seguinte, os flocos caíram por 30 municípios, formando um tapete branco em São José dos Ausentes, Bom Jesus, Gramado, Canela, São Francisco de Paula e Vacaria. À época, as aulas foram suspensas em razão da neve.
Conhecedor do clima da região, o passo-fundense radicado em Vacaria Artur Alexandre, 52 anos, adiantou o jantar desta quarta prevendo que a neve cairia logo. À noite, quando olhou pela janela, deparou com o visual branquinho da rua. Tomou a máquina fotográfica e foi para a praça General Daltro Filho, ponto de encontro dos moradores da cidade. O local escolhido foi o mesmo que, há oito anos, lhe rendeu cliques que estamparam a capa da edição de ZH do dia 28 de agosto.
— Em 2008, quando me mudei para cá, também teve neve, e eu fotografei. Em 2013, foi bem mais, até agora não teve nada como aquele ano. Espero que tenha alguma coisa em 2030 — conta, rindo.
Para ele, a neve tem o poder de transformar as pessoas, que, ao depararem com os flocos brancos, voltam à infância.
— Todas ali na praça sorrindo, encantadas. Não há tênis ou calça de marca. Não há distinção de classes, cor, raça. Ali, são pessoas contemplando e dividindo os mesmos sentimentos e emoções — observa.
Reencontro
A praça que ilustrou a capa do jornal em 2013 também foi ponto de reencontro do fotógrafo com os gêmeos Pedro Henrique e Matheus Henrique Valim Rosa Zacharias, 17 anos. A profissional de Educação Física Camila Valim Rosa Zacharias, 38, mãe da dupla, conta que ao descer do carro no local, deram de cara com Alexandre.
— Por sorte, ele estava bem na nossa frente. Já nos viu e disse: "Vamos fazer foto" — conta.
Nesta quarta (28), a família estava com a mais nova, Helena, nove anos. Em 2013, ela era tão pequena que ficou em casa enquanto a família ia até o ponto central apreciar o fenômeno.
— A beleza da neve causa uma emoção, uma alegria muito grande — diz Camila.
A cerca de 130 quilômetros dali, em Cambará do Sul, o cenário foi semelhante; porém, com presença massiva de turistas. No início da tarde, o servidor público Paulo Elon Pereira da Fonseca, 55 anos, viu pequenos flocos caindo em pontos diferentes do município. À noite, a neve se intensificou e cobriu de branco a cidade de cerca de 6,4 mil habitantes.
— Acordei às 3h30min para trabalhar. Às 4h, quando saí, nevava pouco, mas a estrada estava coberta. Tinha turista na praça àquela hora. A rodovia estava perigosa — relata.
Nascido em Jaquirana, Fonseca vive em Cambará desde os seis anos e diz que já se adaptou ao frio. Inclusive, prefere ele ao calor.
— A gente se acostuma. Lembro quando era piá, quando as estações eram mais definidas, tinha mais frio. Agora, tem inverno que não neva. Mas a gente se agasalha bem e vai à luta — ensina.
Até as 10h desta quinta (29), a confirmação de neve havia ocorrido em Cambará do Sul e em Jaquirana. Embora as temperaturas ainda se mantenham baixas, não há mais condições para nevar na serra gaúcha.
Neve em Porto Alegre ?
Também em agosto, mas dessa vez de 1984, a capital dos gaúchos registrou neve. Conforme relatos da época, o fenômeno durou cerca de meia hora e, em alguns pontos, se estendeu por uma hora.