O governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM), elencou nesta segunda-feira (21) os fatores que, segundo ele, levam o Pantanal a enfrentar um dos piores incêndios da sua história. As chamas que atingem a região desde o começo de julho já destruíram cerca de 15% do bioma e levaram o Estado a pedir ajudar da Força Nacional.
— O grande fator foi o clima e o tempo seco e, obviamente, alguma ação humana — disse Mauro Mendes, em entrevista ao Gaúcha Atualidade.
— Ano passado, o Pantanal não queimou nada. Anos e anos acumulando material orgânico, quando acontece, fica muito difícil. Temos incêndio com oito metros de altura, com vento, somente helicóptero consegue chegar. São parques que, pela sua grande dimensão, o fogo entra rapidamente e torna difícil o trabalho do corpo de bombeiros — complementou.
Segundo o governador, o "governo federal está preocupado" e já sinalizou que vai enviar o reforço da Força Nacional, pedido que deve ser formalizado nesta segunda-feira. No fim de semana, segundo a Defesa Civil do Estado, a chuva ajudou a reduzir em 20% os focos de incêndio, mas segundo Mauro Mendes, a região ainda "precisa de uma atuação mais forte".
O Ministério do Desenvolvimento Regional autorizou o empenho e a transferência de R$ 10 milhões ao Estado de Mato Grosso para execução de ações de combate aos incêndios que atingem a região.
"Exploração da imagem ambiental"
Animais morrendo queimados ou fugindo desorientados em meio às chamas: esse é o cenário que aflige o Pantanal. Considerada a maior planície alagada da Terra, a região abriga uma infinidade de espécies e ainda serve de refúgio para aves migratórias durante o período de reprodução. Neste ano, o bioma que se estende pelo Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bolívia e Paraguai registra uma quantidade de focos de calor acima da média histórica.
Conforme dados do Programa de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que compila registros desde 1998, de janeiro até setembro de 2020, o bioma registrou um total de 12.042 focos ativos. Para se ter uma ideia, em todo o 2019, foram 10.025 mil pontos. O recorde foi registrado em 2005, quando houve 12.536 focos de incêndio captados por satélites.
Indagado sobre as críticas com relação ao combate aos incêndios na região, Mauro Mendes afirmou que "nós somos muito vitimas de uma orquestrada campanha internacional contra o país, movida por interesses":
— Claro que as imagens não são inventadas. Há problemas sim. Mas existe uma exploração da imagem ambiental contra o Brasil, por conta do nosso agronegócio. Só usamos 37% do nosso território. O agronegócio incomoda players e sempre há um jogo de interesse. Ninguém lá fora está preocupado conosco. Agora, nós brasileiros estamos preocupados, queremos preservar a nossa Amazônia, Pantanal. Mas temos que fazer isso de maneira racional, criando oportunidade para pessoas que ali vivem.
Mesmo com a disparada nas queimadas, além de recordes do desmatamento, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, na última quinta-feira (17), que o Brasil está de "parabéns" na maneira como preserva o meio ambiente.
O STF convocou para esta segunda-feira uma audiência pública para debater a crise ambiental no Brasil e as medidas contra as mudanças climáticas do planeta. Durante as sessões, que terminam às 18h de terça-feira (22), serão ouvidos representantes da sociedade civil, ministros e autoridades do governo, professores especialistas, ambientalistas, economistas, banqueiros e representantes do agronegócio no Brasil. O relator é o ministro Luís Roberto Barroso.