Patos deslizavam sobre as águas congeladas dos lagos de São Joaquim, na serra catarinense, na manhã desta quarta-feira (15). A temperatura negativa, que chegou a -8ºC nas estações da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri), pintou de branco os campos cobertos pela geada e criou "pingentes" de gelo em árvores.
— O frio foi intenso. Foi possível ver patos deslizando nos lagos. Não é como na Europa, onde é possível caminhar sobre o gelo. Mas, para um lago congelar dessa forma, necessita fazer frio — conta Marcelo Cruz de Liz, gerente da Estação Experimental da Epagri da cidade.
Se em periferias o frio do Sul do país castiga os mais vulneráveis, os termômetros marcando negativo são uma boa notícia para São Joaquim. A fruticultura, principal atividade econômica da cidade, ao lado do turismo, se beneficia do clima típico do inverno.
— Para a produção local é excelente. Já acumulamos mais de 500 horas com frio abaixo de 7,2°C. Quanto mais horas de frio, melhor para a macieira quebrar a dormência. O frio é primordial e precisa ser nesta época — explica Cruz de Liz.
Além da maçã, o frio melhora a qualidade das pêras e uvas. O frio na época correta ajuda a fazer brotarem frutas doces e exuberantes. Geadas em setembro, por exemplo, podem prejudicar a colheita.
— A geada tardia queima os brotos, folhas e até o frutinho. Mas, nesta época, é o ideal — explica o gerente.
São Joaquim tem até versos criados por uma moradora: "O Brasil é muito grande/não tem começo nem fim/Se o sol queima em Cabo Frio/cai neve em São Joaquim".
Quando cai a neve, como na poesia, os turistas aproveitam para visitar a cidade. A pandemia do coronavírus, porém, acabou obrigando o setor turístico local a se adaptar: hotéis e pousadas só podem funcionar com até 50% da capacidade.
— As temperaturas baixas chamam ainda mais os turistas. A paisagem fica lindíssima, divina. Isso chama o visitante. O pessoal tem vindo do Maranhão, de São Paulo, do Brasil todo — diz a secretária municipal de Turismo, Adriana Cechinel Schlichting De Martin.
A secretária, porém, se preocupa com o aumento recente de contaminados pela covid-19 na cidade.
— Saltamos de cerca de 15 casos no domingo (12) para aproximadamente 25 na terça-feira (14). A culpa não é do turista, mas o movimento também traz o vírus. Pode ir de máscara no restaurante e na vinícola, mas na hora de provar, vai tirar — diz a secretária. — Estamos tendo um fluxo de turistas maior do que imaginávamos. Está até sendo meio difícil. Muitos vêm sem máscaras e sem preparo, são alguns negacionistas que não estão acreditando na pandemia.