Os anos de 2010 a 2019 foram os mais quentes já observados, alertou a Organização das Nações Unidas (ONU) nesta quarta-feira (15), confirmando o inexorável aquecimento global da Terra, caracterizado pelo aumento de eventos climáticos extremos.
— Infelizmente, esperamos ver muitos eventos climáticos extremos em 2020 e nas próximas décadas, alimentados por níveis recordes de gases de efeito estufa que retêm calor na atmosfera — disse o secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Petteri Taalas, em um comunicado.
A OMM acrescentou que suas análises confirmam a informação fornecida pelo monitor climático da União Europeia na semana passada, que mostra que o ano passado foi o segundo mais quente da história, depois de 2016. Para 2020, também não há bons augúrios.
— O ano 2020 começou aí onde 2019 terminou, com acontecimentos meteorológicos e climáticos de forte impacto, como na Austrália, que experimentou em 2019 seu ano mais quente e mais seco já registrado — acrescentou.
Este calor recorde "preparou o terreno para imensos incêndios que foram muito devastadores" na grande ilha continente, apontou.
Segundo o balanço oficial, esses incêndios provocaram a morte de 28 pessoas, destruíram mais de 2 mil casas, queimaram uma zona de 100 mil quilômetros quadrados, maior do que a superfície da Coreia do Sul, e perturbaram as classificações do Aberto da Austrália.
Globalmente, as temperaturas médias desses cinco e 10 últimos anos foram as mais elevadas já registradas.
Desde os anos 1980, cada década foi mais quente do que a anterior, segundo a OMM, que acredita que essa tendência continuará.
De acordo com a agência especializada da ONU, a temperatura mundial anual em 2019 superou em 1,1°C a média registrada na época pré-industrial (1850-1900).
— Segundo a trajetória atual das emissões de dióxido de carbono, nos dirigimos a um aumento da temperatura de três a cinco graus Celsius até o final do século — advertiu Taalas.
O Acordo de Paris de 2015 busca limitar o aquecimento a +2°C ou +1,5°C, mas mesmo que os cerca de 200 países signatários respeitem seus compromissos de redução de gás de efeito estufa, o aquecimento poderá superar os 3°C.
Os cientistas já demostraram que cada meio grau a mais aumenta a intensidade e/ou a frequência de cânulas, tempestades, secas ou inundações.
Apesar dessa constatação, a conferência climática da ONU (COP25), celebrada em dezembro em Madri, não esteve à altura da urgência climática, uma chance perdida, conforme o secretário-geral da ONU António Guterres, que pede mais ambição na luta contra o aquecimento.
O aquecimento climático preocupa a ONU, pois as temperaturas recordes não são o único problema enfrentado pela comunidade internacional.
Derretimento de geleiras, níveis marítimos recordes, acidificação, aumento do calor dos oceanos e condições meteorológicas extremas são alguns dos fenômenos que caracterizaram a década passada, segundo a OMM.