Há quatro meses o céu deixou de ser azul, o ar ficou denso e o sol ganhou contornos terrosos. Com este cenário, a Austrália vivencia, desde setembro do ano passado, a maior onda de incêndios florestais de sua história.
Enquanto conversava com GaúchaZH nesta terça-feira (7), Luis Renato Vaz Quoos, de 26 anos, trabalhava com uma máscara que adquiriu há algumas semanas. Entregador de um restaurante de comida japonesa em Alexandria, ao sul de Sydney, o gaúcho se esbeirava entre áudios à reportagem, trabalho e uma preocupação que passa longe de cenários mais corriqueiros.
— Graças a Deus choveu ontem (segunda, dia 6) e deu uma diminuída, mas vamos ver, tem previsão de mais chuva. Tem que vir muita chuva, porque está muito pesado (o ar) — torce.
Sim, os australianos anseiam pela chuva para apaziguar os incêndios. Eles ocorrem todos os anos durante a primavera e o verão. Mas desta vez, a temporada tem sido particularmente precoce e violenta, ligada a mudanças climáticas e às altas temperaturas. São 130 focos ativos em Nova Gales do Sul, maior Estado da Austrália.
Cerca de 5 milhões de hectares foram reduzidos a cinzas, de acordo com informações dos bombeiros. No país, as projeções são maiores: 8 milhões de hectares destruídos, uma área equivalente à da Irlanda. Até o momento, ao menos 25 pessoas morreram, e duas estão desaparecidas.
Mas um problema silencioso também atinge Sydney e muda a vida de moradores: a fumaça tóxica. A imensidão constantemente cinza do céu, em contraste com o sol, que agora parece uma espécie de esfera flamejante, faz o gaúcho Luis Renato lembrar de uma característica da Austrália que o fez ficar no país.
O engenheiro químico mora em Randwick, subúrbio de Sydney, há dois anos, depois de deixar Porto Alegre rumo a um intercâmbio no Exterior por seis meses.
— Uma da marcas aqui, como a gente sempre diz, é o céu. É muito azul, muito lindo, mas desde setembro a gente não vê isso, não tem. É fumaça o dia todo, e o céu cinza mesmo. Quando tá perto do pôr do sol, fica uma bola laranja no céu, é muito estranho. É bem quente, a fumaça é bem pesada e a gente fica bem pra baixo — lamenta o gaúcho.
A fumaça é bem pesada e a gente fica bem pra baixo
Na sexta-feira (3), uma Fundraiser — ferramenta do Facebook que permite que pessoas façam campanhas pessoais de arrecadação de fundos — foi criada por brasileiros para ajudar a recolher doações para instituições que estão combatendo os incêndios. Até o momento, 646 participaram. Já o governo da Austrália anunciou, na última segunda-feira (6), fundos de US$ 1,4 bilhão para ajudar regiões atingidas.
Quinze minutos após conversar com a reportagem, Luis Renato encaminha uma mensagem de áudio enquanto saía do trabalho. A mensagem era, enfim, de alívio:
— Está chovendo muito agora, eu tô muto feliz. Eu acho que vai ser bom a matéria. Sério. Eu estou indo para casa.