Inundações, enxurradas, estiagem e rompimento de barragens. Esses foram alguns dos desastres naturais que provocaram prejuízos no Rio Grande do Sul em 2019.
GaúchaZH fez um levantamento para saber como isso se refletiu nos cofres públicos e as principais cidades prejudicadas. Os prejuízos comunicados (de janeiro a novembro) — desde gastos com limpeza urbana até aqueles com transporte, segurança, educação e agricultura — chegam a a R$ 1,1 bilhão.
Agricultura, pecuária, transportes e redes de esgoto lideram o ranking de gastos gerados, e os municípios com os maiores prejuízos foram Dom Pedrito, São Gabriel e Itaqui.
Foram analisados todos os dados informados pelas prefeituras gaúchas ao Ministério do Desenvolvimento Regional ao longo dos últimos cinco anos. Em 2019, 56 dentre 497 administrações municipais comunicaram algum tipo de prejuízo à União.
O prejuízo total no RS em 2019 é o menor em cinco anos (veja no infográfico mais abaixo). Sobre à redução, o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Francisco Eliseu Aquino lembra que sempre é possível ter defasagem de dados no sistema federal. Ele lembra que, em 2015 e 2016, houve a presença do segundo El Niño mais forte do século, por isso os danos mais severos.
— Tínhamos atmosfera (em 2015 e 2016) muito propicia para fenômenos. Mas a gente sabe que esses eventos (climáticos) vêm aumentando de maneira geral — reforça o doutor.
Conforme Aquino, é possível que os “eventos severos tenham passado ao largo, pelo Uruguai e por Santa Catarina ou pelo próprio oceano (Atlântico)”. Avalia ainda que 2019 não ter sido o pior ano em termos de prejuízos no Rio Grande do Sul não inviabiliza “a tendência da década de aumento de fenômenos climáticos”.
Trabalho de prevenção
Coordenador da Defesa Civil do Estado, o coronel Júlio César Rocha Lopes explica que há um trabalho intenso de prevenção para evitar prejuízos em razão de desastres naturais. O órgão é dividido em nove unidades no Rio Grande do Sul.
— Os nossos coordenadores regionais visitam todos os prefeitos para levar orientação e esclarecimentos para que o plano de contingência dos municípios estejam sempre atualizados para que possam ser aplicados em caso de desastre — destaca o militar.
Segundo Rocha Lopes, também cabe à Defesa Civil emitir avisos meteorológicos (clima) e hidrológicos (nível dos rios). Cursos também são ministrados para que servidores municipais saibam como agir em caso de desastres. Na avaliação do coordenador da Defesa Civil, as consequências das mudanças climáticas têm sido mais severas nos últimos anos.
— São chuvas mais intensas, granizo onde não havia registro, ventos mais fortes — cita o coronel como exemplo.
O que antes era feito por meio de formulários em papel, agora é feito de forma digital pela Defesa Civil. O preenchimento dos relatórios para fins de decretação de situação de emergência pode ser feito pelo celular, por exemplo.
— Onde (formulário digital) ele (o município) vai inserir todos os laudos, toda a documentação necessária a ser enviada ao Estado. E o governo estadual, após uma análise, homologa aquela situação de emergência para aquele município. E nós, por sua vez, encaminhamos à União essa homologação para que seja reconhecida — explica Rocha Lopes, ao lembrar que somente obedecendo todos os trâmites legais é possível que a prefeitura receba verba federal.
Além do trabalho preventivo, a Defesa Civil auxilia os municípios com ações humanitárias.
Líderes em prejuízos
Ao longo dos últimos cinco anos, os líderes em prejuízos comunicados são Uruguaiana, Vacaria e Dom Pedrito. Nesse período, 365 municípios registraram algum tipo de transtorno causado por desastres naturais.
As consequências do aquecimento global
Geógrafo, mestre em Geociências e com doutorado em Climatologia e Mudanças Climáticas entre a Antártica e o sul do Brasil, o professor Aquino explica que, ao longo dos últimos 15 anos, com o aumento da temperatura global, os fenômenos climáticos da América do Sul cresceram.
— E a região sul do Brasil, que sempre foi sensível à conexão entre a região amazônica e a região sul da América do Sul, entre a Antártica e a Amazônia, vem respondendo com intensidade cada vez maior — destaca Aquino.
O pesquisador diz que com o aumento da temperatura média do Rio Grande do Sul em todas as estações, especialmente outono, primavera e inverno, os eventos meteorológicos ficam mais vigorosos.
— Por conta disso, nós observamos um elevado registro de tempestades, chuvas, alagamentos, muito vendaval, granizo. E todas elas gerando elevado impacto do ponto de vista humano, social e econômico em todos os setores do Rio Grande do Sul.
Em resumo, segundo Aquino, em razão das mudanças climáticas, quando ocorrem ondas de frio, as temperaturas caem ainda mais, e nas ondas de calor, os termômetros vão às alturas. Além disso, as tempestades são mais intensas.
— Em outubro deste ano, por exemplo, tivemos uma série de efeitos meteorológicos intensos com granizo, vendaval e muito prejuízo em todo o Rio Grande do Sul. E se olhamos a América do Sul, a primeira ou a segunda região que mais choveu e mais tempestade teve, foi a região entre o Uruguai e o Rio Grande do Sul.
Ainda de acordo com o professor, os três Estados do sul do Brasil são os que mais registraram prejuízos causados por desastres naturais. Aquino projeta para as três próximas décadas um quadro ainda pior.
— Esses eventos continuarão ou se intensificarão para todas as estações do ano.
Segundo ele, há uma previsão de crise hídrica, excesso de chuva, ondas de frio e calor e tempestades severas. Aquino sustenta ainda que a prevenção e o entendimento dos efeitos das mudanças climáticas são fundamentais para amenizar os problemas a curto e médio prazos.
— O mais importante para reverter essa situação, enquanto se discute uma agenda global, é o investimento em tecnologia de energias renováveis, por exemplo; melhor planejamento urbano para minimizar os efeitos dos desastres; e obras de alta qualidade — conclui Aquino.