Independentemente da retirada anunciada dos Estados Unidos, os compromissos adotados pelos países signatários do Acordo de Paris ainda estão longe de conter o aquecimento global, segundo um estudo publicado nesta terça-feira (5).
— As promessas são insuficientes para alcançar os objetivos e algumas sequer serão cumpridas — afirmou à AFP Robert Watson, ex-diretor do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU) e autor principal do estudo.
A pesquisa conclui que três quartos dos compromissos assumidos no âmbito do Acordo de Paris de 2015 são insuficientes ou provavelmente inalcançáveis. As emissões mundiais passaram de 44,7 Gt (1 gigatonelada = 1 bilhão de toneladas) em 2010 para 53,5 Gt em 2017, e mesmo que as promessas sejam cumpridas, alcançarão 54 Gt em 2030.
— Sem mudanças radicais (...) poderíamos viver em um mundo 1,5 ºC mais quente em uma década.
Para permanecer abaixo desse limite, seria necessário reduzir 50% das emissões de gases do efeito estufa (GEE) até 2030, ressaltam os autores do estudo A verdade por trás dos compromissos do clima, publicado pela ONG americana Fundação Ecológica Universal (FEU-US).
O Acordo de Paris pretende limitar o aquecimento a um aumento inferior a 2ºC e, se possível, a 1,5ºC em relação à era pré-industrial, por meio das contribuições nacionais (NDC) de redução de emissões, revisáveis a cada cinco anos.
A um ano da primeira revisão, os autores analisaram os compromissos e concluíram que das 184 NDC, 128 são insuficientes, oito são "parcialmente insuficientes", 12 são "parcialmente suficientes" e 36 são suficientes.
Os quatro maiores emissores, China, Estados Unidos, União Europeia (UE) e Índia, respondem por 56% das emissões mundiais. Apenas a UE (9% do total) está caminhando para cumprir seu objetivo e inclusive ultrapassá-lo, com uma trajetória em direção a 58% de reduções em 2030, com um compromisso de "ao menos 40%".
A China, o primeiro emissor mundial, com 26,8% dos GEE, e a Índia, o quarto, com 7%, basearam seus compromissos em uma redução de sua "intensidade de carbono". Mas os autores consideram "insuficiente" esta categoria, que vincula as emissões com o Produto Interno Bruto (PIB) global de um país.
Os Estados Unidos, segundo maior emissor, com 13,1%, se comprometeram a reduzir de 26% a 28% suas emissões em 2025, em relação a 2005. Mas Donald Trump confirmou nesta segunda-feira (4) sua intenção de retirar seu país do Acordo de Paris, uma decisão que pode se efetivar em 2020.
O quinto emissor mundial, a Rússia, sequer apresentou compromissos.
Dos 152 compromissos nacionais restantes, 126 são condicionais, sobretudo entre os países mais pobres, que dependem do financiamento e do apoio técnico internacional, enquanto até agora "muito pouca ajuda internacional foi concretizada", segundo o estudo.
"Em consequência, ao menos 130 nações (...) estão muito longe de contribuir para que se alcance a redução necessária de 50% das emissões mundiais até 2030 para limitar o aquecimento a +1,5ºC", segundo os autores.
Paralelamente, 11 mil cientistas advertiram nesta terça-feira (5) que a humanidade ficará exposta a "sofrimentos indizíveis", se a "crise climática" não for abordada rapidamente e com seriedade, em um chamado publicado na revista BioScience.
"É necessário aumentar imensamente os esforços para preservar nossa biosfera, com o objetivo de evitar sofrimentos indizíveis", escrevem os signatários, citando sobretudo a necessidade de diminuir o uso de energias fósseis, preservar a biodiversidade, reorientar as prioridades econômicas do crescimento para o "bem-estar" e controlar a pressão demográfica mundial.