Cervos foram flagrados por câmeras de vigilância caminhando em dois pontos diferentes de Gravataí, na Região Metropolitana, na madrugada de segunda-feira (27). O registro ocorreu pouco antes das 3h, quando três cervídeos apareceram nas câmeras do condomínio Villa Lucchesi, que fazem o monitoramento da rua lateral Paulino Lucchesi, a dois quilômetros do centro da cidade. O outro registro, em foto que foi enviada à Fundação Municipal do Meio Ambiente (FMMA), teria sido feito já no final da madrugada sobre uma das pontes do Parque dos Anjos, a quatro quilômetros de distância do primeiro local. Mas apenas dois animais aparecem nesta segunda imagem.
Segundo o síndico do condomínio, o comerciante Lourenço Fritsch, 39 anos, os cervos foram vistos pelo segurança noturno. No registro de quase dois minutos, os animais se aproximam da cerca, olham para todos os lados e saem em fila na direção do Parque dos Anjos.
– Estamos no meio de duas áreas de preservação, com mata fechada, e sempre aparece algum bicho diferente. Mas veado é a primeira vez em sete anos morando aqui – conta Fritsch.
Gestor do Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos, o biólogo André Osorio Rosa analisou as imagens e disse ser difícil definir a espécie. André é responsável pela administração do único lugar no Estado onde permanecem os últimos indivíduos do cervo-do-pantanal. A área fica em Viamão, distante 40 quilômetros da região onde os animais apareceram. Apesar de o cervo-do-pantanal costumar se deslocar apenas à noite, André acredita que os animais registrados nas imagens não são nativos.
– Pelo tamanho dos bichos, não se encaixam em nenhuma das cinco espécies nativas (catingueiro, mateiro, bororó, campeiro e cervo-do-pantanal). Podem ser animais exóticos, que fugiram de algum criador e estão em liberdade há algum tempo – suspeita o biólogo.
A superintendente do Ibama no Rio Grande do Sul, Claudia Pereira da Costa, afirmou ser impossível chegar a uma identificação a partir dos registros da madrugada de segunda-feira em Gravataí e que só fará algum tipo de inspeção na região se for acionada pela Justiça Federal.
MP de Gravataí apura relação com Pampas Safari
O Ministério Público de Gravataí apura a suspeita de que os animais avistados nas ruas da cidade possam ter fugido do Pampas Safari, a 10 quilômetros do local onde os cervos foram avistados. Na tarde de segunda-feira, a juíza da primeira Vara Cível de Gravataí, Cíntia Mua, a pedido da promotora de Justiça Carolina Barth Loureiro Ingracio, solicitou uma vistoria no Pampas Safari a fim de verificar o quantitativo de animais existentes e as atuais condições deles. A vistoria deveria ser feita pela Fundação Municipal do Meio Ambiente (FMMA) em um prazo de 15 dias. Procurada pela reportagem, a promotora preferiu não se manifestar sobre o caso.
Na tarde de terça-feira (28), representantes da FMMA estiveram no Pampas Safari, acompanhados da Secretaria Estadual da Agricultura e da promotoria especializada. Segundo o presidente da FMMA, Rafael Evaldt, o relatório da vistoria será divulgado nos próximos dias. Há um ano, o Pampas Safari, que está fechado para visitação, foi proibido pela Justiça de abater cervos que estariam infectados por tuberculose humana. Até agora, não foi clinicamente comprovada a morte de algum animal no Pampas pela doença. No mês passado, a retirada dos animais do local também foi impedida judicialmente.
Em nota, Everton Staub, advogado do Pampas Safari, informou desconhecer as fotos dos cervos localizados em Gravataí: "Soubemos do fato porque vocês disseram a nós. As imagens, que são fotos em verdade, foram veiculadas por jornalista ativista que vem divulgando fake news contra nós, tentando manipular a opinião pública. Nossos cervos usam brincos de identificação. As fotografias não permitem dizer que tipo de cervos são e inclusive se as imagens foram apuradas em Gravataí. Se são cervos do nosso plantel, então existe crime de furto a ser apurado pela Polícia Civil, uma vez que frequentemente registramos ocorrências policiais de ativistas tentando invadir a propriedade e cortando nossas cercas".
Staub ainda criticou a solicitação de vistoria:"Não fomos notificados de nada antes da alegada vistoria. Foi violado o contraditório, a ampla defesa e a coisa julgada, mediante um ato judicial ilegal e completamente NULO. (...) Foi nitidamente uma tentativa de realizar uma ação midiática, justamente no momento em que já obtivemos todas as vitórias possíveis".
E se você der de cara com um cervo na rua?
- A primeira atitude é manter distância.
- Não tente se aproximar nem capturá-lo.
- Ligue para (51) 3191-5161 (FMMA), (51) 99999-5799 (plantão FMMA) ou 153 (Guarda Municipal).