Em meio a uma grande polêmica, a área verde de nove hectares na região central de Canela pode ser privatizada. O Parque do Palácio, onde fica a residência oficial de verão do governador gaúcho, pertencia originalmente ao governo do Estado, mas foi cedido à prefeitura, que se comprometeu a erguer um Centro de Eventos no local. Como não conseguiu, pretende privatizar o terreno, e por isso encaminhou um projeto à Câmara de Vereadores do município, que vai apreciá-lo nesta segunda-feira (13). O Secretário de Turismo e Cultura de Canela, Ângelo Sanches, está otimista:
Por que a prefeitura não assume a administração do parque do palácio?
Quando assumimos o governo, há dois anos e meio, o parque estava fechado. Abandonado. Fizemos um mutirão para abri-lo, com faxina, troca de lâmpadas, vidros novos, reforma de banheiros, tudo com dinheiro público. Mesmo sem ter orçamento para manter o parque, a prefeitura comprou a briga, gastou com infraestrutura. Mas toda semana tem que fazer manutenção porque destroem algo. Ainda assim, mantivemos o parque aberto. Precisamos manter esse investimento, fazer com que o local se torne atrativo, mas isso requer muito dinheiro. E por que tiraríamos dinheiro da educação e da saúde para fazer o que a iniciativa privada pode fazer?
Como será o processo de escolha da empresa para investir na área?
Abrimos um edital de chamamento para o Brasil todo no qual diversas empresas podem cadastrar qualquer tipo de projeto, de qualquer área, desde que a prefeitura tenha autonomia de decidir o que pode ser oferecido. Uma empresa protocolou a intenção de fazer um centro de convenções e um centro gastronômico ali, com a possibilidade de um hotel no futuro. Intenção é uma coisa, mas não é assim que as coisas funcionam. Primeiro nós decidimos sentar com o governo do Estado e saber exatamente o que o governo estava pensando, se iria tomar aquilo de volta ou não. A proposta (de cessão da área) foi revalidada. Como nos deram mais uma chance, resolvemos solicitar à Câmara de Vereadores a cedência (para a iniciativa privada). Para que nós possamos pensar, junto com a sociedade, o que vai ser o edital. Só depois se decidirá o futuro da área.
O que a prefeitura vai determinar no edital?
Dos nove hectares, só dois poderão ter edificações. Nos outros sete, a empresa que ganhar a licitação terá que dar, em contrapartida, educação ambiental, preservando as características do parque. Segundo: construir a feira dos orgânicos de Canela. Terceiro: a feira dos artesanatos. Quarto: erguer um espaço para que sejam feitas manifestações culturais. Quinto: preservar, na íntegra, os sete hectares, garantindo mobilidade urbana, segurança, vigilância, infraestrutura de banheiros e tudo aquilo que o canelense e o turista precisam para ter tranquilidade e conforto no meio da natureza.
A população terá acesso a esses sete hectares?
Gratuitamente, 24 horas por dia. Poderei ir à meia-noite com minha esposa e meus filhos porque haverá vigilância, iluminação, fraldário, banheiro. Por que um centro de eventos lá? Porque não quero ver um monte de ônibus e carros passando no centro da cidade. Quero mobilidade urbana. Não quero viver o que Gramado está vivendo hoje. O parque está fora da via de circulação, e ainda vai ser construída uma terceira pista na frente. O veículo não precisa entrar na cidade, e com isso eu corto todo o trânsito do município. Todo o turismo a partir dali vai poder ser feito a pé.
Como o governo tem avaliado a polêmica que se criou em torno da concessão à iniciativa privada?
A prefeitura não volta atrás: só dois hectares serão de edificação. Os outros sete serão para preservação com infraestrutura. Eu quero as trilhas, os banheiros, identificação, mobilidade urbana, preservação, um projeto de estudo ambiental. E o governo tem esse poder de botar no papel e dizer: "Eu quero". Não podem falar o que estão falando, que uma empresa de Santa Catarina fez uma proposta, e o governo está vendido. Isso é mentira. O cara veio propor isso na frente da Câmara de Vereadores, na frente de todo mundo, como qualquer um poderia ter protocolado. Agora, se nós vamos aceitar, isso é outra coisa: isso vai para uma licitação. Vai ganhar quem der a melhor proposta e que estiver respeitando totalmente os critérios do município.