A Síria anunciou nesta terça-feira (7) na COP23 de Bonn, na Alemanha, sua intenção de entrar no Acordo de Paris contra as mudanças climáticas, segundo uma ONG, o que deixaria os Estados Unidos como a única nação do mundo disposta a permanecer fora do pacto.
— Nós vamos nos juntar ao Acordo de Paris — disse um delegado sírio, falando em árabe, durante uma sessão plenária na conferência da ONU em Bonn, Alemanha, de acordo com Safa Al Jayoussi, diretora da ONG IndyAct, que estava monitorando a sessão.
Segundo a ONU, o delegado era Wadah Katmawi, vice-ministro sírio da Administração Local e do Meio Ambiente.
— Entendemos que o governo da Síria anunciou hoje (7) sua intenção de se unir ao Acordo de Paris —confirmou um porta-voz da Convenção da ONU sobre Mudança do Clima, indicando que agora Damasco deverá apresentar seus instrumentos de ratificação ante a ONU em Nova York.
Em 22 de outubro, o Parlamento sírio adotou um projeto de lei para ratificar o Acordo de Paris, em "conformidade com a Constituição síria, que estipula a necessidade de proteger o meio ambiente". Assim, a Síria se tornará o 197º país a se unir ao acordo, que já foi ratificado por 169 Estados e que entrou em vigor menos de um ano depois de sua assinatura em Paris, em dezembro de 2015.
— Eles enfatizaram que todos os países têm uma responsabilidade, mas também mencionaram sua intenção de se concentrar em suas prioridades nacionais, incluindo a reconstrução no pós-guerra — disse Cynthia Elliott, do think tank americano WRI, organização observadora no processo de negociação.
A porta-voz do Departamento de Estado americano Heather Nauert considerou o anúncio "irônico":
— Francamente, a Síria está realmente preocupada? (...) É ridículo — disse a repórteres em Washington. — Se o governo sírio se preocupa tanto com o que há no ar, então que comece por não gasear seu próprio povo.
O Acordo de Paris busca limitar o aquecimento global abaixo de 2ºC, em relação aos níveis pré-industriais. Com a decisão da Nicarágua, em outubro passado, de assinar o acordo, que inicialmente tinha considerado insuficiente, e com a adesão da Síria, Washington fica sozinho em sua crítica ao pacto.
O acordo tinha sido apoiado, assinado e ratificado pelos Estados Unidos sob o governo de Barack Obama, mas o presidente Donald Trump, eleito em 2016, anunciou em junho passado sua decisão de retirar o país do pacto, por considerá-lo prejudicial aos interesses nacionais.
De acordo com o texto, no entanto, sua saída só poderá ser efetiva a partir de 4 de novembro de 2020.
— Isto quer dizer que os Estados Unidos estão isolados — indicou Alden Meyer, especialista do think tank americano Union of Concerned Scientist. — Sobre esse tema do clima, ninguém quer estar do lado de Donald Trump, que se encontra em um esplêndido isolamento — apontou.
— Quando até mesmo a Síria, com todos os seus problemas, compreende a importância de um acordo climático mundial, isto mostra como o Partido Republicano nos Estados Unidos está comprometido ideologicamente com a negação climática — disse Mohamed Adow, da ONG Christian Aid.
Os Estados Unidos são atualmente o segundo maior emissor mundial de gases de efeito estufa, e o primeiro em termos históricos.
Um delegação americana está participando dos debates sobre as regras de aplicação do acordo na COP23, que acontece até 17 de novembro, "a fim de proteger os interesses" do país, segundo o Departamento de Estado.