Por volta das 14h30min de terça-feira (2), Maicon Diniz e a família saíram de carro de Nova Tramandaí, no Litoral Norte, onde passaram o Réveillon, rumo a Rolante, no Vale do Paranhana. O trajeto costuma levar em torno de uma hora e 10 minutos. Nessa ocasião, contudo, demoraram mais de quatro horas para chegar ao destino final.
O morador de Santa Maria, que está passando as férias com a esposa em Rolante, conta que a ideia de sair do Litoral à tarde foi estratégica, pois imaginaram que naquele horário não haveria muito movimento. Mas ele conta que a RS-030 estava totalmente trancada até a freeway.
— Quando afunilou, em Osório, ficou pior. Ficamos bastante tempo parados, andava 10 metros e já parava logo na frente. Não pegamos acidente, só uma chuva fraca, mas era muito carro mesmo. Meu irmão mora há anos em Rolante e disse que nunca enfrentou uma situação parecida — conta, destacando que o acostamento não estava liberado.
O relato de Diniz ilustra a tranqueira que milhares de condutores enfrentaram nas rodovias gaúchas para retornarem para suas residências, após o feriadão de Ano-Novo.
Conforme a CCR ViaSul, 87 mil veículos passaram pela freeway em direção à Capital na terça-feira — a via é o principal ponto de ligação entre o Litoral Norte e a Região Metropolitana. A concessionária ainda não fechou o balanço do final de ano, mas o gerente de operações da CCR ViaSul, Paulo Linck, aponta que o fluxo não estava muito fora do que havia sido projetado para o período:
— São datas atípicas, em que o volume do tráfego na rodovia praticamente triplica. A ida é bem distribuída, porém o retorno é sempre mais concentrado. Já vínhamos alertando isso para que as pessoas programassem o retorno, evitando a segunda-feira à tarde e a terça-feira inteira. Esse movimento intenso nesses dois dias sempre vai ocorrer, tem de se programar para fugir desses horários, ter muita paciência e atenção redobrada.
Já Douglas Paveck Bomfim, chefe de Comunicação Social da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no Estado, avalia que o retorno de veículos do Litoral para a Região Metropolitana foi bem acima do esperado, superando a expectativa do órgão. Além do movimento contínuo de pessoas em direção às praias durante a semana, aponta que a segunda-feira foi um dia muito aproveitável na beira-mar, o que fez com que muitas pessoas optassem por voltar na terça.
Outro fator que pode ter colaborado com os pontos de lentidão foi a impossibilidade de liberar o tráfego pelo acostamento — a medida foi viável por 45 minutos, apenas na segunda-feira. Bomfim explica que se trata de uma operação complexa e que existe um protocolo a ser seguido para garantir a segurança das pessoas.
— Nossas viaturas fazem o monitoramento de todo o trecho de acostamento aberto para tráfego. Envolve também um reforço nas equipes da concessionária. E não pode ter veículos em pane mecânica, ciclistas, andarilhos. Na medida que veículos começam a estragar, é inviável manter o acostamento aberto. A operação é suspensa, porque temos de garantir a fluidez do trânsito, mas em primeiro lugar vem a segurança das pessoas — enfatiza.
O gerente de operações da CCR acrescenta que a chuva de terça-feira também impediu a liberação do acostamento. Linck ressalta ainda que houve um grande esforço entre agosto e novembro para a conclusão das obras na freeway, a fim de evitar transtornos no verão. De toda forma, lembra que a rodovia recebe, em Osório, um volume de tráfego muito significativo vindo da BR-101 e da RS-030 — o que gera uma lentidão mais específica nesse trecho, até que todos os veículos se acomodem na via.
— Infelizmente, hoje também vemos uma epidemia de distração no trânsito. Qualquer coisa que ocorre, um eventual acidente, as pessoas querem filmar, tirar foto. Tivemos um acidente quase no acesso de Gravataí, no sentido Capital-Litoral, que prejudicou muito o retorno e a fluidez da rodovia. Gerou uma lentidão de mais de 10 quilômetros no sentido Litoral-Capital, então, é preciso evitar isso — aponta Linck.
Lentidão na RS-040
Um dos pontos com maior movimento nas rodovias estaduais foi a RS-040, que liga as praias mais ao sul e a Região Metropolitana. Na terça, o trecho entre Capão da Porteira e Águas Claras chegou a registrar cerca de 20 quilômetros de lentidão.
De acordo com o coronel Rogério Pereira Martins, comandante do Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM), foi percebido um aumento considerável na entrada de veículos no Litoral, por todas as rodovias estaduais, a partir do Natal:
— Enquanto no feriadão de 2022 para 2023 ingressaram 360 mil veículos no Litoral Norte, neste ano foram aproximadamente 440 mil por todas as rodovias (RS-040, RS-030, RS-407 e RS-453). Então, sabíamos que teríamos também uma grande saída de veículos após o feriadão, porque foi prolongado, sabíamos que teria impacto e falamos que os motoristas precisavam observar os horários de saída.
A RS-040 teve um “ingrediente” a mais neste ano: em 2023, foram instaladas quatro travessias elevadas nos quilômetros 26, 27, 30 e 32 no perímetro urbano da região de Águas Claras. O coronel ressalta que isso faz com que o condutor precise reduzir a velocidade para passar pela faixa de segurança, o que colaborou para a lentidão no trecho.
Para os próximos feriados e finais de semana, o CRBM pretende colocar policiais nesses pontos para fazer com que o trânsito flua mais, além de desenvolver campanhas para que os condutores evitem pegar a estrada nos horários de pico, se distribuindo mais ao longo do dia e da noite, a fim de evitar a retração.
Medidas para amenizar futuros problemas
A distribuição maior dos veículos nas estradas, em horários distintos, é uma das medidas que podem ajudar a amenizar futuros problemas, aponta o engenheiro civil e doutor em transportes João Fortini Albano. O especialista comenta que tanto a polícia quanto a imprensa precisam informar ostensivamente aos usuários das vias sobre os períodos de maior congestionamento. Dessa forma, os motoristas podem ter o discernimento e escolher um momento alternativo para pegar a estrada.
Além disso, ressalta que sempre há retenção nas praças de pedágio e que providências para agilizar o pagamento, como fazê-lo de forma prévia ou posterior à passagem do veículo, poderiam resolver essa questão. Outro ponto que precisa ser agilizado, na visão de Albano, é o atendimento aos automóveis com problemas ou envolvidos em acidentes.
— Em uma hora de retorno, com alto movimento, tinha de ter uma estrutura mais ágil para resolver esses problemas. Desburocratizar, ter guinchos de sobreaviso. Isso é relativamente fácil de agilizar — afirma.
Liberar o acostamento onde é possível também pode colaborar para melhor fluidez do tráfego, conforme o especialista, assim como investir em alargamentos e duplicação das vias.
— Esses tópicos, se implementados simultaneamente poderiam melhorar a condição. Mas existe uma coisa que é irreversível: em todas as vias, se todos usarem ao mesmo tempo, vai haver uma contingência momentânea — finaliza.