— Meu pai está morto, minha mãe está ruim. Só estamos eu e o bebê, que se mexe um pouco.
Assim foi o pedido de socorro por telefone de Everson Scramozzini, 17 anos, a um vizinho, em Canoas, logo depois de o carro de sua família ser atingido na BR-386 por um Citroën dirigido por um homem com sinais de embriaguez. O adolescente, sem ferimentos físicos aparentes, foi quem prestou os primeiros socorros à mãe, que ficou presa às ferragens, e ao irmão de sete meses, que morreu mais tarde no hospital.
O acidente ocorreu às 5h15min do domingo (23), no km 328 da rodovia, em Marques de Souza. Adriano Scramozzini, 35 anos, a esposa, Solange, 35 anos, e os filhos Everson e Luiz Henrique haviam saído do bairro Guajuviras, em Canoas, para visitar familiares de Adriano em Saudade do Iguaçu, no Paraná.
Desempregado já há algum tempo, ele era motorista de caminhão, começaria um novo trabalho e precisava resolver questões de documentação na cidade paranaense. O filho Everson, alistado, se apresentaria ao Exército.
A família estava em um Chevette que, conforme amigos, era o xodó de Adriano. Quando o Citroën dirigido por Marcos Alciones Weiss, 42 anos, atingiu frontalmente o carro da família, o banco do motorista esmagou a cadeirinha de Luiz Henrique, que estava atrás.
Adriano, que dirigia o carro, morreu na hora. Ao seu lado, a esposa ficou presa às ferragens e sofreu fraturas. Atrás do banco dela, estava Everson, que conseguiu sair do veículo para tentar atender a mãe e o irmão, depois de constatar que o pai estava morto.
O adolescente pegou o irmão no colo e depois foi ajudado por pessoas que passavam na estrada. Como o pai deixara documentos com um vizinho, que os entregaria nesta segunda-feira (24) à empresa na qual Adriano começaria a trabalhar, foi o telefone deste vizinho o primeiro que Everson localizou para avisar da tragédia. Também teria ligado para os bombeiros.
Quando os Bombeiros de Lajeado chegaram, fizeram processo de ressuscitação no bebê. Chegaram a registrar que Everson aparentava tranquilidade e não tinha ferimentos aparentes.
No Citroën, encontraram Weiss debruçado sobre o banco do carona, em aparente estado de choque. Levado até a ambulância do Samu, ele se negou a ser examinado e atendido. Inclusive, assinou termo declarando a recusa. Ele também se negou a fazer o teste de etilômetro, mas os policiais rodoviários federais registraram que ele apresentava sinais de embriaguez e o conduziram até delegacia da Polícia Civil de Lajeado.
O motorista foi autuado em flagrante por homicídio qualificado de trânsito e a polícia pediu a prisão preventiva — que foi decretada pelo juiz Luís Antônio de Abreu Johnson, da comarca de Lajeado. Weiss se negou a prestar depoimento e está no Presídio Estadual de Lajeado.
Na sentença, o magistrado afirmou que os agentes da Polícia Rodoviária (PRF) relataram que o motorista apresentava sinais de embriaguez, como "fala arrastada, olhos avermelhados e hálito etílico".
"O teste do etilômetro não apresentou resultado, eis que o consoante certificado pela autoridade de trânsito, o flagrado recusou-se a se submeter a perícia, admitindo, no entanto, haver ingerido cerveja, tendo a mesma autoridade certificado nos autos que Marcos Alciones Weiss apresentava fala alterada, dificuldade de equilíbrio, dispersivo, olhos vermelhos, concluindo que estava com capacidade psicomotora alterada em decorrência da influência de álcool", diz trecho da decisão. Nesta segunda-feira (24), Weiss deve comparecer a uma audiência de instrução.
A família Scramozzini vivia há cerca de seis anos em Canoas, vinda de Saudade do Iguaçu, cidade natal de Adriano. Antes de atuar como carreteiro, ele trabalhou na roça e também como pedreiro.
— Era um sujeito muito trabalhador, alegre — lamenta o cunhado Edson Eleutério da Luz.
Antes de engravidar de Luiz Henrique, Solange costumava acompanhar o marido nas viagens de caminhão. Parou quando estava com cerca de quatro meses de gravidez.
Luiz Henrique nasceu prematuro, lembra Edson, que foi quem levou Solange ao hospital para o parto. Na tarde de domingo, depois de passar por procedimento de ressuscitação na BR-386, o bebê sofreu três paradas cardíacas no hospital e não resistiu.
Solange e o filho Everson seguem internados no Hospital Bruno Born, em Lajeado. Ela quebrou uma perna e passa por exames para verificar se há outras lesões. Everson sente muita dor nas costas.
Os dois não poderão comparecer ao sepultamento de Adriano e de Luiz Henrique. Os corpos estão sendo levados para Saudade do Iguaçu, e o enterro deve ocorrer na terça-feira (25).