Durante escavações realizadas no fim de setembro em uma área na região norte do Peru, arqueólogos identificaram murais com desenhos de serpentes e um trono que teria pertencido a uma mulher responsável por governar o povo Moche há cerca de 1,3 mil anos atrás.
Os itens foram encontrados em Pañamarca, a cerca de 400 quilômetros da capital do país, Lima, onde funcionava um centro religioso e político. De acordo com reportagem publicada no The New York Times a cultura Moche é conhecida por suas grandes estruturas e por irrigar áreas do deserto "muito antes dos Incas surgirem e conquistarem os Andes". Eles habitavam uma região onde hoje localiza-se Trujillo.
A descoberta mais recente sobre a cultura do povo Moche indica a existência de um Hall of the Braided Serpents (Salão das Serpentes Trançadas, na tradução livre) em meio à Pañamarca. Com vista para uma praça, o local serviria para rituais culturais e era decorado com pinturas e desenhos de guerreiros, uma criatura que integra a mitologia Moche e serpentes com perna de humanos.
— Essas serpentes são em tamanho natural (tamanho humano) e também nessa sala em particular temos um mural de um monstro Moche perseguindo um homem — destacou ao Times Michele Koons, uma das pesquisadoras de Pañamarca e diretora de antropologia do Denver Museum of Nature & Science.
Em outra câmara, decorada com pinturas que retratam uma figura em assento de poder, imagens de uma coroa, lua crescente e criaturas marinas, foi encontrado um trono construído por volta de 650 d.C. e que teria pertencido à Dama de Cao, uma mulher tatuada e responsável por governar o povo Moche há cerca de 1,3 mil anos. O objeto apresenta sinais de erosão no encosto, que os arqueólogos acreditam indicar desgaste devido à sua utilização.
— É muito incomum vermos a mulher coroada sentada em um trono dentro de um edifício que abriga uma corte. Acho que podemos dizer com alguma certeza que, independentemente de quem de fato estava sentado ali, era um trono para uma rainha, o trono de uma mulher — explicou Lisa Trever, professora de história da arte e arqueologia da Universidade de Columbia, em Nova York.
Os restos mortais da Dama do Cao foram encontrados em 2006, durante a escavação de uma tumba na região. Além de auxiliar os pesquisadores a compreender o estilo de vida, a cultura e mitologia Moche, as descobertas corroboram a ideia de um cenário com mulheres no poder, em uma época conhecida por exércitos e reis homens.