Após problemas técnicos na nave espacial Boeing Starliner, que chegou à Estação Espacial Internacional em junho de 2024, os astronautas norte-americanos Sunita Williams e Barry Wilmore estão "presos" no espaço, com retorno à Terra programado apenas para fevereiro de 2025. O caso chama a atenção pelo longo período em que os cosmonautas permanecerão no espaço, mas é algo considerado "comum" em missões espaciais e não vai atingir o recorde de estadia fora do planeta.
Butch Wilmore e Suni Williams viajaram a bordo da cápsula em junho para uma missão que deveria durar uma semana. Com os problemas de falha de segurança relacionados à cápsula da Boeing, o retorno dos astronautas deve ocorrer somente em fevereiro de 2025, quando a missão SpaceX Crew-9 retorna à Terra, oferecendo uma "carona" para os dois. Por diferentes problemas, outros astronautas também ficaram presos no espaço em missões anteriores.
O russo Valeri Polyakov estabeleceu o recorde mundial de permanência no espaço. Foram 437 dias consecutivos na Estação Espacial Mir, operada pela União Soviética e desativada em 2001. Com a missão de compreender os impactos das viagens espaciais de longa duração à saúde, Polyakov rumou ao espaço em 8 de janeiro de 1994 e retornou apenas em 22 de março de 1994.
Em 2003, a desintegração do ônibus espacial Columbia durante o retorno à atmosfera terrestre causou a morte de sete astronautas e resultou na suspensão de todas as missões espaciais da Agência Espacial Norte-amerciana (Nasa). Devido ao incidente, dois astronautas norte-americanos e um russo passaram três meses além do previsto na ISS. Donald Pettit, Nikolai Budarin e Kenneth Bowersox retornaram à Terra em maio do mesmo ano. Os episódios foram relembrados pela National Geographic Brasil.
Conheça os casos e motivos que deixaram astronautas "presos" no espaço
Fim da União Soviética
Em 18 de maio de 1991, Sergei Krikalev embarcou rumo à estação espacial Mir para uma missão de 150 dias. A nave que partiu de Baikonur, na República Socialista Soviética do Cazaquistão, permaneceu em órbita por 311 dias – 161 além do previsto inicialmente – após imbróglios geopolíticos.
Enquanto Krikalev estava no espaço, a União Soviética chegou ao fim e se dissolveu em 15 nações. Com isso, houve divergência sobre quem custearia a missão de volta de Krikalev à Terra e qual nação enviaria um astronauta para substituí-lo na Mir.
Krikalev retornou à Terra em 25 de março de 1992. Ele pousou no Cazaquistão, um país independente, diferentemente de quando viajou ao espaço. O astronauta concluiu cinco mil voltas na Terra durante o período.
Grão de poeira
Fran Rubio é o astronauta da Nasa que mais dias consecutivos permaneceu no espaço. Foram 371, entre setembro de 2022 e setembro de 2023.
Ao lado de dois cosmonautas russos, o norte-americano chegou à ISS a bordo da espaçonave Soyuz, em setembro de 2022. Ele deveria retornar em março do ano seguinte, mas a nave apresentou problemas técnicos após ser atingida por um micrometeorito.
Apollo 13
A explosão de um tanque de oxigênio no módulo de comando da missão Apollo 13 colocou em risco a vida de James "Jim" Lovell, John "Jack" Swigert e Fred Haise, todos a bordo do foguete Saturn V, que partiu do Centro Espacial Kennedy, na Flórida, em 11 de abril de 1970. A viagem à Lua duraria seis dias, mas o incidente 56 horas após a decolagem atrasou em cerca de 14 horas o retorno dos astronautas à Terra.
— Houston, tivemos um problema — disse Swigert ao informar o incidente ao centro de controle da missão na Terra. A frase popularizou-se e foi reproduzida por Tom Hanks no filme Apollo 13 (1995), que reproduz a missão.
A cabine de controle foi despressurizada após a explosão do cilindro, momento em que os astronautas precisaram se alojar no módulo Aquarius, que seria utilizado para pousar na Lua e havia espaço para apenas duas pessoas. Com um passageiro a mais que a capacidade, os níveis de dióxido de carbono (CO2) elevaram-se rapidamente no compartimento e os astronautas correram risco de morrerem sufocados.
O trio utilizou sacolas plásticas, fita adesiva e mangueiras para puxar oxigênio dos cilindros da cabine despressurizada. Eles ainda precisaram improvisar a volta à Terra, posicionando a nave em uma trajetória de retorno livre, para orbitar o planeta. Lovell, Swigert e Haise foram resgatados com vida do Oceano Pacífico, onde a nave caiu, em 17 de abril.