A opção foi por me incomodar. Por sair do trilho. Por assistir falas que nunca ouvi, pelas quais nunca me interessei, que mostram, na lata, a ignorância. A palavra algoritmo saiu da Matemática e virou um conceito de fortaleza - ou fraqueza, ponto de vista que prefiro. As bolhas de sabão de crianças viraram locais quentinhos e aconchegantes nas quais humanos se estabelecem e máquinas - internet - os ajudam. Porque "Deuzulivre" de aparecer uma postagem que discordo!
O mundo não parou de conversar e começou a se agredir agora. Humanos fazem isso desde sempre. A nova ordem deu a democracia na mão de cada um. Está aqui o seu canal: ele tem áudio, vídeo, foto e texto. Use-o. Encontre os alvos prediletos, junte-se ao seu exército. Mas nunca mais saia dessa bolha. Dê estocadas nos próximos da vida real, afaste-se deles com o tempo e torne a sua vida uma mesmice diária.
Eu sou assim e fico triste. Por isso que aqui, em Austin, no Texas, no festival de inovação, música e cinema chamado SXSW, optei por me incomodar. Estou atrás de assuntos dos quais não tenho a mínima ideia nem vontade de aprender. E levei pauladas.
Como descobrir que as taxas de depressão e suicídio nos Estados Unidos são maiores do que a média nacional com médicos e veterinários. Eles sofrem porque não conseguem mais se conectar com pacientes - que escolhem médicos pelo Instagram - porque eles votam no mesmo candidato. Profissionais da saúde ganham cada vez menos e observam pessoas e animais morrerem com assiduidade. A pandemia foi a pá de terra que faltava. Pois que saí da bolha com o sofrimento das classes que curam meus filhos e meu cachorro.
Descobri que o que mais mata entre as mudanças climáticas contemporâneas é o calor. Milhares de americanos morrem porque não se protegem no verão. Falta dinheiro para ar-condicionado, falta informação. Esse assunto chato não era o que aparecia nas rodas de conversa com amigos. Saí da bolha.
Ouvi do criador do ChatGPT - sigla linkada à Inteligência Artificial, ou seja, robôs (não como os dos filmes) sendo cada vez mais humanos - que essa tecnologia não vai acabar com todos os empregos. Não senti firmeza no Greg Brockman, CEO da OPenAI, e decidi que, na volta ao Brasil, vou aprender outra profissão porque a minha está por uma linha bem fininha de barbante, prestes a arrebentar.
Também ouvi dele que, se você não gostou do final de Game of Thrones - eu! -, peça ao ChatGPT para recriá-lo, com você em cima do dragão. Enfim, é só o começo da revolução que está por vir.
Saí da quentinha e aconchegante bolha ao ouvir nerds bilionários que afetam a nossa vida todos os segundos. Tudo no mesmo dia. Com outras mexidas na minha cabeça que guardarei só para mim. Ao final, deixo registrado que foi bom. Que fiz força para reatar com a curiosidade, que não foi fácil, que perdi falas de assuntos que consumo diariamente, mas que ouvir grupos diferentes fez um bem danado. E não morri, não perdi amigos - ao contrário, fiz outros. Agora tenho menos vergonha do chato “monoassunto” que meus filhos encontram em casa todo dia.