Um estudo publicado na segunda-feira (22) na revista científica La Cryosphère revelou que as geleiras suíças perderam a metade de seu volume desde 1931. Para a realização da pesquisa, os cientistas da Escola Politécnica Federal de Zurique (EPFZ) e do Instituto Federal de Pesquisa em Florestas, Neve e Paisagem (WSL) fizeram a reconstituição da topografia da região no século 20 para comparar com a atual situação.
Uma das estratégias adotadas pelos pesquisadores foi o uso de imagens de arquivo que mostravam 86% da superfície glaciar suíça. Com isso, obtiveram 21.700 registros fotográficos tirados entre 1916 e 1947. Outro recurso utilizado foi a estereofotogrametria, uma técnica que permite determinar a natureza, forma e posição de um objeto por meio da análise de imagens.
A partir dos recursos empregados e da análise dos dados coletados, os cientistas observaram que ao comparar os anos de 1931 com 2019, houve um importante retrocesso glaciar durante este período.
Apesar da constatação da diminuição do volume das geleiras ao longo do tempo, um fato chamou a atenção dos pesquisadores: nem todas as geleiras estão perdendo massa na mesma proporção. Além disso, o retrocesso não se deu de maneira contínua no último século e, inclusive, houve um crescimento de massa de algumas dessas formações geológicas nos anos de 1920 e 1980.
A rede suíça de pesquisa de geleiras GLAMOS indicou que enquanto as geleiras observadas perderam 50% de seu volume entre 1931 e 2016, elas levaram apenas seis anos - entre 2016 e 2022 - para perder 12%, o que também indica que os níveis de derretimento variam consideravelmente.
"Com base nas reconstruções e comparando com os dados dos anos 2000, os pesquisadores concluíram que o volume das geleiras se reduziu à metade entre 1931 e 2016", indicaram a EPFZ e o WSL em nota.
A partir da pesquisa, os cientistas descobriram que com relação ao glaciar Fiescher só restaram algumas pequenas marcas brancas em 2021. A formação geológica fazia parte de um enorme mar de gelo em 1928.
Segundo o estudo, uma das principais causas para o degelo dos Alpes, que está sendo monitorado desde o início dos anos 2000, é o aquecimento global. Apesar de já ter estudos na área, os pesquisadores ainda não sabiam sobre a evolução do derretimento nas décadas anteriores ao início da observação, pois nesse período, somente algumas geleiras foram acompanhadas de perto.
O principal autor do estudo, Erik Schytt Mannerfelt, explicou em nota a importância de os cientistas saberem quais eram as condições passadas e quais são as recentes de uma geleira.
— Se conhecemos a topografia da superfície de uma geleira em dois momentos diferentes, podemos calcular a diferença de volume de gelo — disse.
Daniel Farinotti, professor de glacialogia na EPFZ e no WSL, acredita que a pesquisa apresenta evidências irrefutáveis de que o recuo das geleiras, apesar de não ser constante, está acelerando. Para o pesquisador, isso é preocupante e deverá servir como incentivo para a realização de estudos que consigam mitigar os efeitos do aquecimento global e desacelerar o derretimento do gelo nessas regiões.