Após o museu alemão se comprometer a devolver um fóssil de dinossauro ao Brasil, paleontólogos brasileiros planejam rebatizar a espécie — chamada, até então, de Ubirajara jubatus. Os vestígios do extinto animal foram encontrados no Ceará e retirados ilegalmente do Estado brasileiro em 1995.
O plano dos pesquisadores do país é continuar estudando o fóssil de dinossauro considerado exótico. O projeto depende que o país europeu cumpra a promessa de devolver o material para o Brasil. As informações são da Folha de S. Paulo.
Atualmente, o animal se encontra em um limbo acadêmico. A revista especializada Cretaceous Research decidiu retirar do ar o artigo científico em que que quatro pesquisadores estrangeiros descreviam a espécie. Isso ocorre devido a procedência ilícita do material.
Dessa forma, a descrição da espécie deixar de existir formalmente para a ciência, ou seja, outros paleontólogos podem realizar uma nova descrição. A lacuna permite também que a nomenclatura do animal seja modificada.
A comunidade paleontológica brasileira está se movimentando para que o primeiro dinossauro não aviário encontrado com penas preservadas na América Latina receba devida renomeação e trabalho envolvendo a espécie.
— Não me recordo de ter visto uma situação assim antes na paleontologia — relata o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner.
O dinossauro é o maior símbolo de uma luta travada pelos pesquisadores brasileiros contra o tráfico internacional de fósseis. Uma campanha nas redes sociais ganhou destaque na imprensa internacional nos últimos dias: #UbirajaraBelongstoBR.
Apesar dos fósseis não estarem no Brasil e os paleontólogos estarem tentando trazê-lo de volta, a pesquisa em conjunto com os especialistas estrangeiros é bem vista pelos cientistas brasileiros.
— O Brasil quer os fósseis de volta, não quer roubar a pesquisa de ninguém — disse o Diretor do Museu Nacional, que ainda ressalta que a nova pesquisa poderia ser um "segundo artigo".
Kellner conclui que o processo envolvendo o fóssil de dinossauro deve ser feito de forma conjunta com as entidades do local no qual o animal viveu.
Porque o fóssil está na Alemanha?
O fóssil do Ubirajara jubatus está com o Museu e História Natural de Karlsruhe, na Alemanha, de forma ilegal. O tráfico internacional de fósseis tem sido um problema mundial envolvendo as pesquisa científicas. No final de julho deste ano, a instituição foi intimada a devolvê-lo para o Brasil. A discussão iniciou em 2020, quando cientistas brasileiros publicaram um artigo alegando que os vestígios não foram exportados legalmente e iniciando uma campanha nas redes sociais.
Segundo a Folha de S. Paulo, haverá mais uma investigação sobre outros exemplares brasileiros em posse do museu. É esperado que seja possível designar novos estudos em cima das espécies que poderão ser "repatriadas".
O jornal alemão Badische Neueste Nachrichten afirma, em reportagem, que o Ministério da Ciência da Alemanha está insatisfeito com a forma que o museu conduz o caso e que isso gera danos graves para a reputação do país, assim como das outras instituições históricas.
Investigações sobre o caso
O Ministério Público Federal brasileiro (MPF) se envolveu no assunto e começou a apurar o caso. De acordo com as autoridades alemãs, o fóssil foi encontrado em uma pedreira na região da Bacia do Araripe, entre os municípios de Nova Olinda e Santana do Cariri, no Ceará, e transferido em 1995 para a Alemanha, para fins de estudo e publicação de um artigo científico sobre o achado.
Segundo as autoridades alemãs, a transferência foi concedida e autorizada na época pelo escritório regional do extinto Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), atual Agência Nacional de Mineração (ANM).
No entanto, segundo o MPF brasileiro no documento de autorização não está clara a permissão devido ao uso de linguagem genérica. Durante a investigação, o MPF encontrou contradições entres as versões apresentadas pelos representantes do Museu alemão e pelos servidores envolvidos no caso.
O dinossauro
O Ubirajara jubatus viveu no período Cretáceo, há cerca de 110 e 115 milhões de anos. Até hoje, ele é considerado como o dinossauro mais antigo da Bacia do Araripe, no Ceará.
De acordo com os paleontólogos, o Ubirajara pode ser considerado como um "ancestral" das aves. O holótipo, peça que serviu de base para a descrição da espécie, está atualmente no Museu Estadual de História Natural de Karlsruhe, na Alemanha.