Um grupo de engenheiros da Rice University, nos Estados Unidos, está envolvido em um projeto que consiste em utilizar aranhas mortas como robôs. As patas do animal são usadas como garras para segurar e levantar objetos. A pesquisa foi publicada na revista científica Advanced Science.
O estudo é liderado pela estudante de pós-graduação em engenharia mecânica Faye Yap e contou com apoiou de outros colegas e supervisão do professor Daniel Preston. A equipe nomeou a tecnologia de necrobótica, nome que remete ao radical grego necro, que significa morte, e à terminação que faz referência à robótica (campo de estudo que trata de sistemas compostos por partes mecânicas automáticas em conjunto com circuitos integrados).
Para a realização da pesquisa foram utilizadas aranhas da família Lycosidae. Segundo os pesquisadores, a escolha pelos aracnídeos se deu devido a um mecanismo curioso de sua anatomia: as patas dos animais não utilizam músculos para realizar o movimento de extensão, mas se baseiam em pressão hidráulica.
Os aracnídeos têm uma câmera prossoma, também conhecida como cefalotórax. Essa seção do corpo se contrai e, com isso, há o envio do fluido do corpo do animal para as patas, o que faz com que se estendam.
No canal do YouTube da Rice University, a instituição de ensino disponibilizou um vídeo em que mostra a aplicação da pesquisa. Confira:
Como as aranhas foram "ressuscitadas"
Para que o projeto desse certo, os cientistas precisaram reativar as funções corporais das aranhas. Para isso, uma agulha foi inserida na câmara prossoma dos animais. Com o envio de ar pela seringa, as patas dos aracnídeos foram ativadas.
Quando a injeção é aplicada de forma correta, as pernas do animal se movem até a extensão máxima em menos de um segundo. Para a surpresa dos engenheiros, a reativação das funções corporais deu certo na primeira tentativa.
Após a reativação da funcionalidade do cefalotórax, os pesquisadores realizaram alguns testes com as patas das aranhas. Em alguns experimentos, a equipe fez com que os animais mortos segurassem e levantassem diferentes objetos — desde os mais delicados até eletrônicos mais massivos, como cabos-ponte de circuito, blocos de isopor e pequenas bolas. Também foi testado o levantamento de outro aracnídeo com o mesmo peso.
Benefícios e desvantagens da necrobiótica
Segundo a equipe envolvida no estudo, uma das vantagens da pesquisa é que, por utilizar animais mortos, os lixos gerados podem ser facilmente descartados sem ocasionar impactos ambientais, já que são biodegradáveis. Isso também contribuiu para a diminuição de lixo eletrônico.
A principal desvantagem da pesquisa é que sua matéria-prima, as patas das aranhas, se desgasta muito rápido após dois dias ou mil ciclos de abrir e fechar. Para evitar a desidratação das juntas, os engenheiros começaram a aplicar compostos como cera de abelha. Os resultados já demostraram que, nesses casos, ocorre uma diminuição da massa das patas dos aracnídeos. Com isso há maior retenção de líquido e a tecnologia consegue durar mais tempo.