Patrícia Medeiros, 35 anos, etnobióloga de Pernambuco, foi uma das 15 ganhadoras do prêmio International Rising Talents, concedido a jovens cientistas mulheres pela Fundação L'Oréal em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A brasileira recebeu 15 mil euros (cerca de R$ 84 mil) para investir em seus estudos. As informações são da BBC Brasil.
A cientista já havia conquistado a edição nacional do prêmio da Fundação L'Oréal e graças a isso pôde concorrer à categoria internacional. A pesquisa premiada de Patrícia abrange o estudo sobre a relação entre as pessoas e as plantas alimentícias não convencionais (PANCs). A pesquisadora tem doutorado pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e leciona Agroecologia e Engenharia Florestal na Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
O que motivou a cientista a pesquisar sobre as PANCs foi o seu desejo de trabalhar com comunidades extrativistas e auxiliá-las na ampliação de renda. Em entrevista à BBC, Patrícia contou que essas plantas não são conhecidas nos centros urbanos, mas que são amplamente encontradas em feiras locais, como no interior do Alagoas. No entanto, muitas vezes, acabam não chegando às capitais.
Na primeira etapa da pesquisa, realizada em áreas de restinga da costa brasileira, a pernambucana identificou junto às comunidades locais quais espécies de plantas tinham potencial para se tornarem populares. Depois, realizaram estudos ecológicos e com consumidores cujo intuito era descobrir quais desses vegetais eram mais aceitos, qual o público-alvo e as melhores estratégias, incluindo as de marketing, para apresentar esses produtos e para que chegassem aos centros urbanos.
Segundo Patrícia, o objetivo do estudo é derrubar as barreiras que limitam o consumo dos alimentos pouco conhecidos nos centros urbanos ou ainda, que são subaproveitados nessas regiões. Nessa lista, incluem araçá, cambuí, jenipapo, ouricori, pimenta rosa e taioba.
Uma das estratégias adotadas pela cientista é fazer associações para entender como as pessoas escolhem o que vão comer. Sua dúvida era se a decisão era tomada com base no nome do produto, em sua aparência ou ainda em seu cheiro. Para Patrícia, no Brasil há uma grande variedade desses vegetais, mas o país ainda aproveita muito pouco seu potencial alimentar devido a questões culturais e de hábito.
Outro recurso utilizado por Patrícia é tentar adotar medidas que inibam a neofobia das pessoas, ou seja, o medo de algo novo, como provar algum alimento que nunca tenham degustado antes.
Em comunicado, a Fundação L'Oréal justificou que a pesquisa de Patrícia foi premiada porque além de incluir novos produtos na alimentação, o estudo promove a biodiversidade e a segurança alimentar, uma vez que as PANCs são mais adaptadas aos seus ambientes de origem e, com isso, reduz a necessidade do uso de agrotóxicos e fertilizantes.
Mudanças climáticas e agricultura familiar
A partir da pesquisa, Patrícia também demonstrou que é necessário diversificar a alimentação por conta dos impactos das mudanças climáticas. Esse problema ambiental poderá ser responsável pela escassez de determinados alimentos, sendo essencial, com isso, a substituição por outros.
Estudos recentes já apontam que nos próximos 30 ou 50 anos poderá haver um grande espaçamento no intervalo das chuvas, o que agravaria ainda mais o problema e impactaria diretamente na agricultura familiar, que conta com a água como principal fonte de irrigação.
Segundo a cientista, outra questão que precisa mudar é o investimento do governo brasileiro em determinados setores. Patrícia ressaltou que o agronegócio é muito mais privilegiado se comparado à agricultura familiar, por exemplo.