O escocês Steven Gallagher, 48 anos, realizou em dezembro do ano passado uma cirurgia pioneira e arriscada de transplante duplo de mãos. Cinco meses depois, Steven relata que está sem dor e sentindo uma nova vida.
Gallagher, que mora há alguns anos no Reino Unido, desenvolveu há 13 anos uma erupção nas bochechas e no nariz, além de dores no braço direito. Quando procurou ajuda médica, os especialistas acreditavam que se tratava de um diagnóstico de lúpus e, depois, cogitaram ser os efeitos da síndrome do túnel do carpo.
Depois de ter sido diagnosticado com a síndrome, Gallagher foi operado. No entanto, mesmo após o procedimento cirúrgico, ele seguia sentindo dores no braço. Com isso, o escocês foi encaminhado para um novo médico que revelou que o problema, na verdade, era esclerodermia, uma doença autoimune que causa cicatrizes na pele e nos órgãos internos.
A doença avançou a tal ponto que afetou o nariz, a boca e as mãos de Gallagher. Há sete anos, os dedos do escocês começaram a curvar, o que aumentou ainda mais a dor que sentia.
— Minhas mãos começaram a se fechar. Chegou ao ponto em que eram basicamente dois punhos. Minhas mãos ficaram inutilizáveis — relembrou em entrevista à BBC.
Devido aos efeitos da doença, Gallagher teve que abandonar seu trabalho na construção civil. Segundo ele, essa decisão ocorreu após perceber que não conseguia mais pegar os objetos e, inclusive, tinha dificuldade para se vestir.
A partir de uma nova consulta médica, Gallagher foi encaminhado ao professor Andrew Hart, cirurgião plástico e de mãos em Glasgow, na Escócia. O especialista falou sobre a hipótese de um transplante duplo de mãos.
— Eu poderia acabar perdendo minhas mãos de qualquer maneira, então decidimos avisá-los (os médicos) que toparíamos (a cirurgia) — contou à BBC.
Antes da realização da operação, Gallagher passou por uma avaliação psicológica para garantir que estaria preparado física e mentalmente para o procedimento.
A cirurgia
A cirúrgia foi realizado em Leeds, na Inglaterra, durou 12 horas e envolveu aproximadamente 30 profissionais de várias áreas. Segundo os médicos, o mais demorado nesse tipo de cirurgia é encontrar um doador morto adequado.
— Essas mãos são incríveis, tudo aconteceu muito rápido. No momento em que acordei da operação já conseguia movê-las — relembrou.
Depois da operação, o escocês ficou quatro semanas em recuperação. Passado esse período, ainda precisou ir a hospitais de Glasgow para fisioterapia e monitoramento. Steven ainda não consegue realizar algumas tarefas como fechar o botão das roupas, mas acaricia seu cachorro, abre a torneira e enche o copo, além de outras atividades rotineiras.
De acordo com o escocês, aos poucos sua vida está melhorando. Para ele, uma das grandes surpresas após a cirurgia foi o sumiço da dor.
— A dor era o grande problema. Antes da operação era horrível, eu estava tomando tanto analgésico que era inacreditável, mas agora não sinto mais nenhuma dor — contou.
Segundo Simon Kay, o transplante de mãos é mais difícil e diferente do que o transplante de outros órgãos, como coração e rins, por exemplo.
— As mãos são algo que vemos todos os dias e as usamos de muitas maneiras. Por essa razão, nós e nossos psicólogos clínicos especialistas avaliamos e preparamos os pacientes, para ter certeza de que eles serão capazes de lidar psicologicamente com a lembrança permanente de seu transplante e o risco de o corpo rejeitar as mãos transplantadas — explicou Kay.
Gallagher continua se recuperando e avançando nos movimentos com as sessões de fisioterapia. O escocês planeja voltar a trabalhar em breve e já relata que a cirurgia transformou sua qualidade de vida.