Um sarcófago de chumbo e várias sepulturas foram encontrados no subsolo da catedral de Notre-Dame, em Paris, durante processo de restauração da estrutura, que sofreu um incêndio em 2019. O ministério francês da Cultura fez o anúncio da descoberta na segunda-feira (14).
De acordo com especialistas, os objetos encontrados podem datar do século 14. Segundo Dominique García, presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Arqueológicas, a descoberta ajudará na realização de estudos sobre as práticas e ritos funerários da Idade Média.
Não são os primeiros restos humanos encontrados em Notre-Dame, que desde a sua construção serviu de cemitério, sobretudo dos responsáveis pelo templo, ou de personalidades religiosas. Mas até então os especialistas nunca haviam encontrado um sarcófago tão bem preservado.
Os arqueólogos conseguiram introduzir uma minicâmera endoscópica dentro do sarcófago para explorar o que há dentro da estrutura.
— Você pode vislumbrar pedaços de tecido, cabelo e sobretudo uma almofada de folhas em cima da cabeça, um fenômeno bem conhecido quando os hierarcas religiosos eram enterrados. O fato destes elementos vegetais ainda se encontrarem no interior mostra a priori um estado de conservação do corpo muito bom — explicou Christophe Besnier, arqueólogo responsável pela escavação.
Até o momento não se sabe de quem poderia ser o corpo, embora a localização sugira que possa ser de um personagem importante de um templo lendário.
— É uma grande emoção. Esta catedral representa toda a história de Paris, e encontrar-se diante desses vestígios é extremamente impressionante — declarou a ministra da Cultura, Roselyne Bachelot, ao pé do sarcófago.
A catedral
A catedral de Notre-Dame fica localizada em Paris, na França. A obra foi construída entre 1163 e 1345.
A estrutura da catedral é baseada em uma arquitetura gótica: paredes mais finas, sustentadas por contrafortes no exterior da igreja, o que permite a elevação dos arcos ogivais e a colocação de vitrais. As dimensões são 127 metros de comprimento por 48 metros de largura e 25 metros de altura em seu interior. As rosáceas fazem homenagem à Virgem Maria e ao menino Jesus.
A consagração da obra se deu em 1189, quando passou a ser um local para realização de missas. Na catedral também aconteceram cerimônias importantes, como a coroação do rei inglês Henrique VI, em 16 de dezembro de 1431, e a indicação de Napoleão Bonaparte como imperador da França.
O local se tornou popular por meio de obras literárias, como Notre-Dame de Paris (1831), de Victor Hugo. Anos depois, o livro passou a se chamar O Corcunda de Notre-Dame. O romance histórico é ambientado em Paris no ano de 1482.
Em 15 de abril de 2019, a catedral sofreu um incêndio que derrubou toda a estrutura de madeira do teto. O incidente não deixou vítimas. Dois meses depois, um relatório da polícia indicou como possíveis causas um cigarro mal apagado ou falha elétrica. Foi descartada a hipótese de incêndio criminoso.
Desde o incidente, a estrutura segue em obras de reconstrução. Um enorme andaime com cerca de cem metros de altura deverá ser instalado nos próximos dias para reconstruir a torre do templo.
Antes do incêndio, Notre-Dame era considerado como um dos monumentos mais visitados da França, com cerca de 12 milhões de turistas por ano.
Escavação
Durante o processo de restauração, começaram a ser realizadas escavações para garantir a solidez do solo, de cerca de 100 m². O trabalho acabou revelando um sistema de aquecimento subterrâneo que data do século 19. Entre as estruturas, feitas de tijolos, foi encontrado o sarcófago antropomórfico, cujo chumbo aparece deformado pelo peso da terra e das pedras.
A poucos metros de distância do primeiro achado, os arqueólogos trabalharam arduamente para desenterrar outro objeto de grande valor: os restos de um antigo jubé, ou coro alto.
O jubé era um coro de pedra, adornado com figuras esculpidas, que durante séculos separou o coro do resto da igreja. O da Notre-Dame foi construído por volta de 1230 e destruído no início do século 18.
A Igreja Católica mudou sua liturgia ao longo dos séculos, e esse altar, que separava os fiéis do ofício, perdeu seu sentido, explicaram especialistas. Como era frequente na época, as pedras foram reaproveitadas na mesma obra.