Uma parte do foguete Falcon 9, da Space X, empresa do bilionário Elon Musk, foi flagrada reentrando na atmosfera terrestre na madrugada de terça-feira (8). O grande risco de luminosidade no céu pôde ser visto por moradores do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e também do Paraná.
De acordo com a Rede Brasileira de Observação de Meteoros (Bramon, na sigla em inglês), a reentrada dos detritos aconteceu às 4h36. Ao longo de pouco mais de um minuto, o objeto pôde ser visto a olho nu, cruzando o céu no sul do país.
– Foi a reentrada de segundo estágio do Foguete Falcon 9, que caiu sobre o Estado do Paraná. Até agora não temos nenhum relato de moradores, mas pode ser que tenha sobrado fragmentos – afirmou, em entrevista ao UOL, o professor Carlos Fernando Jung, proprietário do Observatório Espacial Heller & Jung, em Taquara.
O Falcon 9 foi lançado em dezembro do ano passado a partir da plataforma 40 da Estação da Força Aérea de Cabo Canaveral, na Flórida. Ele foi para o Leste, sobre o Oceano Atlântico, para colocar o satélite de comunicações turco Turksat 5B em órbita, que deve fornecer serviços de comunicação à Turquia.
O fotógrafo paranaense Márcio Edson Lopes chamou de "bola de fogo" a luz que viu no céu por volta das 4h30 de terça-feira. Ele e familiares estavam em um velório no momento.
– Eu avistei o que parecia ser uma estrela cadente. Fui chamar minha esposa para olhar, e essa estrela começou a virar uma bola de fogo bem grande – contou ao G1.
O catarinense Emerson Rodrigo Bello conseguiu capturar o momento em que o também chamado lixo espacial passava pela cidade de Salto Veloso. O vídeo foi compartilhado no Instagram da Bramon.
De acordo com o diretor-técnico da Bramon, Marcelo Zurita, a "bola de fogo" vista pelas pessoas não é do foguete queimando, mas uma luz emitida pelo plasma gerado durante o processo de reentrada atmosférica dos detritos da aeronave.
– O vídeo mostra o momento em que o objeto tá se desintegrando na reentrada atmosférica. Como esses foguetes têm que atingir velocidades muito altas para poder colocar satélites em órbita, quando retornam pra atmosfera da Terra, geram o mesmo fenômeno físico que conhecemos como meteoros. Devido à sua alta velocidade, há uma compressão de gases atmosféricos e essa compressão acaba gerando um plasma (gás aquecido ionizado) e isso funciona como uma solda elétrica. No caso da reentrada, o plasma vai consumindo o foguete – explicou.
Zurita afirmou ainda que a SpaceX é conhecida pelo retorno seguro de seus foguetes, mas, quando se trata de um segundo estágio, fazer a reentrada segura é mais complicado e exigira muito combustível. Nessas ocasiões, geralmente, acabam queimando na reentrada na atmosfera quando retornam para a Terra.
– Os segundos estágios da SpaceX têm a capacidade de fazer uma reentrada controlada, o que significa que não dá pra recuperar e reutilizar, pois o processo de reentrada é destrutivo, mas o que eles conseguem fazer é controlar a hora que ele retorna para a atmosfera para fazer com que entre, por exemplo, sempre sobre o oceano, sem trazer risco para a população em solo. Mas no caso desse lançamento específico da SpaceX, que ocorreu no final do ano passado, o satélite era do tipo geoestacionário, fica longe, numa órbita a 35 mil quilômetros da Terra. Nessa condição, o foguete tem que ir muito distante e nisso ele acaba consumindo todo o seu combustível, o que torna bem complicado o controle do foguete. Nesses casos, depois de cumprida a missão o foguete faz uma liberação de combustível, um processo de esvaziamento, e fica a deriva no espaço até que em alguma situação consiga reentrar na atmosfera – afirma Zurita.