Imagine visualizar uma escala de tamanho inferior ao diâmetro de um fio de cabelo dividido em 1 milhão de vezes e obter informações sobre esse pedaço sub-nanométrico de forma cem vezes mais rápida do que o habitual. É isso que os futuros microscópios eletrônicos de transmissão podem oferecer aos usuários do Centro de Microscopia e Microanálise (CMM) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Os novos equipamentos de última geração têm como objetivo aprimorar e agilizar pesquisas realizadas por profissionais de áreas como Medicina, Metalurgia, Física, Biologia, Geologia e Química. A previsão é de que os aparelhos sejam entregues no Campus do Vale entre março e abril de 2023.
O investimento de R$ 12,5 milhões, que permitiu a compra dos novos microscópios, tem origem em uma chamada pública feita pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), em 2016, para apoiar centros nacionais de infraestrutura científica e tecnológica de caráter multiusuário.
Coordenador do projeto de modernização do CMM e professor da UFRGS, Paulo Fichtner explica que os recursos foram integralizados pela Finep em setembro de 2021 e estão sendo gerenciados pela Fundação de Apoio da UFRGS (Faurgs). Os equipamentos escolhidos são da marca Jeol, do Japão, cujo prazo para fabricação e entrega é de 15 meses. Nesse meio tempo, a estrutura do CMM será adaptada para a instalação dos aparelhos.
Criado em 1996, o CMM presta serviços e disponibiliza equipamentos de microscopia para a comunidade de pesquisa e ensino em geral, vinculada ou não à UFRGS, de todos os Estados brasileiros. Também tem oferecido atendimento a empresas como Braskem, Gerdau e Petrobras. Atualmente, o prédio conta com oito microscópios, sendo dois eletrônicos de transmissão de elétrons, dois ópticos confocais e quatro eletrônicos de varredura.
— Com o passar do tempo, fomos adquirindo novos equipamentos, mas os dois microscópios de transmissão de elétrons são da época em que o CMM foi inaugurado, já têm mais de 20 anos e existem tecnologias mais avançadas hoje. O intuito desse projeto foi justamente substituir esses dois aparelhos, que continuam funcionando e serão transferidos para a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) — relata Daniel Lorscheitter Baptista, professor do Departamento de Física da UFRGS e diretor do Centro.
Com as novas aquisições, o CMM entra para a lista dos centros de microscopia mais bem equipados do Brasil. Os professores afirmam que a tecnologia dos equipamentos japoneses permitirá, além da identificação de estruturas com resolução atômica, a obtenção de informações analíticas sobre a composição química do material em três dimensões — a chamada técnica de tomografia. De acordo com Fichtner, há uma demanda expressiva por serviços desse tipo no país e, a partir de 2023, uma instituição do Rio Grande do Sul ajudará a supri-la.
— Teremos uma maior capacidade de aumento e uma atualização tecnológica em toda a parte de informática, de aquisição de dados e imagens. Então, o tempo que se leva para adquirir e processar uma informação será reduzido por 10 ou até cem vezes em alguns casos. É muito mais rápido para adquirir e tratar dados que serão muito melhores. É um salto tecnológico imenso que estamos dando aqui — ressalta o coordenador do projeto.
Importância dos novos equipamentos
Ao agilizar e aprimorar pesquisas, os novos equipamentos refletirão na qualidade das teses e dissertações dos alunos de pós-graduação que trabalham no CMM. Também podem impactar o setor de metalurgia, já que o desenvolvimento de chapas de aço mais resistentes depende da presença de nanopartículas dentro do material e seus tamanhos, dispersão, estrutura e composição poderão ser analisados com os aparelhos, reforça Paulo Fichtner, destacando que a instituição espera poder colaborar com todas as indústrias do país que gastam muito para fazer análises no Exterior.
Daniel Lorscheitter Baptista comenta ainda que as aquisições elevam todo o patamar das pesquisas que dependem da microscopia nas áreas de saúde e energia, por exemplo. Por isso, considera como um dos impactos da modernização do CMM formar profissionais atualizados em nível elevado:
— A pesquisa hoje está muito avançada, e quanto mais ela avança, mais demanda equipamentos de alta tecnologia para conseguir gerar seu resultado final. E, ao passo que a gente proporciona esse avanço no nível da pesquisa no Brasil, isso cria resultados para as empresas, cria resultados científicos que, cedo ou tarde, voltam para a sociedade por meio de produtos e serviços melhores e mais baratos.
— Se não atingirmos esse patamar de trabalhar com técnicas mais modernas, com tecnologia de ponta, nossos trabalhos vão ser sempre menos citados e ter menos impacto. O que interessa para um cientista é fazer um trabalho que outros cientistas considerem importante e, para isso, a gente precisa ter ferramentas como essa que teremos aqui — complementa a professora do Departamento de Bioquímica da UFRGS e vice-coordenadora do projeto, Fátima Guma.
De acordo com os docentes, após a entrega, os microscópios passarão por um período de testes de aproximadamente três meses. Também será necessário desenvolver um treinamento com os operadores das máquinas e expandir a contratação de técnicos em nível de doutorado. Assim, a expectativa é de que os equipamentos estejam prontos para uso no segundo semestre de 2023.