A Nasa anunciou, nesta quarta-feira (8), o lançamento do aguardado telescópio James Webb para 18 de dezembro. O novo equipamento deve substituir o telescópio espacial Hubble e irá captar radiação infravermelha. Com essa tecnologia, será possível observar a formação de novas galáxias e estrelas. E entre os grupos de pesquisa selecionados para utilizar o James Webb, está o projeto liderado pelo Grupo de Astrofísica da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
O estudo Suprimindo a formação estelar: desvendando ventos moleculares em núcleos ativos de galáxias, orientado pelo professor Rogemar André Riffel, em colaboração com a doutoranda em Física Marina Bianchin e os pesquisadores Thaisa Storchi-Bergmann e Rogério Riffel, ambos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), faz parte das 250 propostas mundiais aprovadas para usar o equipamento.
A proposta dos gaúchos visa estudar o papel de ventos de gás molecular e da radiação, produzidos no disco de acreção (acumulação de matéria na superfície de um astro pela ação da gravidade) no entorno de buracos negros supermassivos no centro de galáxias próximas, na evolução de galáxias, o chamado feedback de núcleos ativos de galáxias. Com o telescópio James Webb, será possível mapear a cinemática do gás molecular morno (com temperaturas de centenas de Kelvins), quente (aproximadamente 2.000 K) e ionizado em detalhes sem precedentes.
A cinemática do gás molecular morno, segundo os pesquisadores, será estudada a partir da emissão da molécula do hidrogênio no infravermelho médio, região espectral que somente é acessível por telescópios espaciais, já que a atmosfera terrestre bloqueia a maior parte da radiação nessas frequências.
A proposta prevê observações de três galáxias próximas (NGC3884, CGCG012-070 e UGC08782), cujos buracos negros centrais estão capturando matéria ativamente. Estes objetos foram selecionados por serem candidatos a apresentarem ventos de gás molecular potentes, como indicado por estudos anteriores do grupo de pesquisa.
– As três são galáxias com núcleo ativo. Hoje sabemos que a maior parte das galáxias possuem um buraco negro de milhões a bilhões de massas solares em seus centros, inclusive a nossa galáxia. Os núcleos ativos de galáxias são aqueles em que o buraco negro está capturando matéria, ou seja, há matéria próxima suficiente para ele engolir. À medida que ele captura matéria, forma-se um disco de gás ao redor dele e esse disco emite grandes quantidades de radiação (comparável a todas as estrelas da galáxia) e ventos de gás, que podem afetar a formação de novas estrelas na galáxia inteira. Esse é o fenômeno em que estamos interessados – afirmou o professor Rogemar Riffel em entrevista à UFSM..
O investimento estimado para a construção e lançamento do telescópio James Webb é de US$ 10 bilhões e o tempo de operação previsto é de cinco anos, ou seja, em média foram investidos US$ 2 bilhões por ano de observação. A proposta do Grupo de Astrofísica da UFSM corresponde a um investimento de cerca de US$ 3,7 milhões.
A previsão dos cientistas é que seja possível observações no telescópio James Web a partir de maio de 2022. A análise dos dados obtidos pelo projeto será realizada pelo próprio grupo da UFSM, utilizando técnicas e ferramentas desenvolvidas pela equipe responsável pelo telescópio, e também pelo grupo e colaboradores.
O projeto do James Web é financiado pela Agência Espacial Americana (Nasa), pela Agência Espacial Europeia (ESA) e pela Agência Espacial Canadense (CSA).