Um fóssil apreendido em operação da Polícia Federal em Santos, em 2013, revelou-se um dos exemplares mais completos e bem preservados de um pterossauro do gênero Tapejara já encontrado no Brasil. A descrição da nova espécie de réptil voador, batizada de Tupandactylus navigans, foi publicada na semana passada na revista eletrônica PLOS (Public Library of Science). Tem como principal autor o paleontólogo Victor Beccari, da Universidade de São Paulo (USP).
Fósseis de Tapejara são abundantes no Ceará. O subgrupo é conhecido pela enorme crista que caracteriza os seus exemplares. Entretanto, até hoje, a maior parte dos ossos encontrados na região do Crato era do crânio do réptil. Este pterossauro voador é o primeiro exemplar descrito a apresentar ossos de praticamente todo o corpo do bicho, além de tecidos moles. Isso o torna o fóssil mais completo já encontrado no país.
– Trata-se de um fóssil de extrema importância para a paleontologia brasileira e, por pouco, não perdemos toda essa informação – afirmou Beccari. – Certamente o fóssil teria sido vendido por um preço altíssimo no exterior.
O exemplar foi confiscado pela polícia durante uma operação no Porto de Santos. Estava prestes a ser embarcado para o exterior, onde seria vendido ilegalmente a colecionadores. Levado para a USP, pôde ser estudado por especialistas.
A descrição sugere que, diferentemente do que se pensava, o animal, embora alado, passava a maior parte do tempo no chão. A proporção entre o tamanho das asas e dos membros inferiores, além da gigantesca crista, revelou que dificilmente ele conseguiria fazer voos de longa distância.
– Estamos falando de um réptil voador. A primeira coisa que pensamos é que ele estaria voando a maior parte do tempo. Mas, na verdade, ele era meio desengonçado – disse o paleontólogo.
– A descrição mostrou que ele tinha proporções muito estranhas, um pescoço relativamente comprido, uma cabeça enorme, a perna maior do que se esperaria e as asas menores. Além disso, ele não usava a crista para voar, mas sim como um display sexual. A gente acha que ele ficava muito mais tempo no chão e voava apenas para escapar de predadores –acrescentou Beccari.
Fóssil muito bem conservado
Graças à realização de exames de tomografia, foi possível investigar até o material que estava enterrado no sedimento. O fóssil recém-descrito tem 2,5 m de envergadura e uma crista de 0,5 m de altura no topo da cabeça.
– Até mesmo parte dos tecidos moles foi preservada pelo processo de fossilização, o que é algo extremamente raro – diz Fabiana Rodrigues Costa, professora da Universidade Federal do ABC que coordenou o estudo. – Graças a materiais como esse, o Brasil é capaz de fazer contribuições bastante relevantes no campo da paleontologia – pondera.