Uma pesquisa iniciada por paleontólogos gaúchos a partir da descoberta de fósseis de uma espécie em São João do Polêsine, na região central do Estado, ganhou a capa da respeitada revista científica Nature em dezembro. O artigo, chamado "Enigmáticos precursores de dinossauros preenchem lacuna até a origem dos pterosauros", explica a conclusão dos pesquisadores de que o Ixalerpeton polesinensis – um contemporâneo dos dinossauros que viveu há cerca de 230 milhões de anos – foi ancestral dos pterossauros, também da época dos grandes répteis e que eram capazes de voar.
O material é assinado por cerca de 20 cientistas de várias nações, incluindo Suíça, Estados Unidos, Inglaterra e Argentina, além dos dois descobridores do fóssil no Rio Grande do Sul, os paleontólogos Sérgio Cabreira e Lúcio Roberto da Silva, membros da Associação Sul Brasileira de Paleontologia.
A pesquisa com o Ixalerpeton polesinensis – um ser semelhante a uma lagartixa e com dimensões de um quero-quero – iniciou-se há 10 anos e teve suas primeiras descobertas apresentadas à comunidade científica em 2016, mostrando a anatomia da espécie e sua linha de parentesco. Desde então, as frentes de estudo se ramificaram.
Uma delas tentava associar o pequeno réptil aos pterossauros, com a ajuda de novas tecnologias. Até então, não se sabia como o lagerpetídeo, como é classificado o tipo encontrado no Rio Grande do Sul, poderia ter evoluído para os pterossauros.
— Foi realizada uma tomografia nos laboratórios da Universidade de São Paulo (USP) e analisado o fóssil com tecnologia avançada. Descobrimos que o cérebro e os ouvidos internos dos pterossauros e dos lagerpetídeos são semelhantes, sugerindo que parte dos sistemas sensoriais dos pterossauros evoluiu e possibilitou que mais tarde estes pudessem voar — explica Lúcio Roberto.
O Ixalerpeton foi encontrado na mesma rocha em que fósseis do Buriolestes schutlzi, um dos precursores dos dinossauros, foram localizados. Embora estivesse desarticulado, o fóssil do Ixalerpeton estava completo, o que favoreceu o avanço das pesquisas.
Lúcio explica que o Rio Grande do Sul é o único Estado do Brasil onde há formações que permitem encontrar fósseis do período triássico, ao qual pertenceu a espécie encontrada. Isso torna o Estado rico em descobertas paleontológicas.
Em novembro passado, um trabalho realizado por uma equipe de paleontólogos desbravou uma parte da anatomia de um dos dinossauros mais antigos do mundo, que até então era desconhecida. O estudo foi publicado no periódico europeu Journal of Anatomy e apresentou a reconstrução completa do cérebro do pequeno Buriolestes schultzi.