A descoberta de uma estrela anã branca feita por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) ganhou novos contornos. Agora, estudiosos de três países diferentes – incluindo o Brasil – concluíram que ela é resultado da interação de duas estrelas que explodiram em supernova parcial e que este corpo celeste viaja a uma velocidade de 900 mil km/h na Via Láctea.
Batizada de SDSS J1240+6710, essa estrela foi encontrada, em 2015, por Kepler Oliveira, professor do Departamento de Astronomia da UFRGS, e seus estudantes enquanto eles analisavam uma base de dados de 4,5 milhões de espectros.
Mais recentemente, com o auxílio dos telescópios Hubble e William Herschel, foi percebido que, além de oxigênio, esta estrela apresenta neônio e silício em sua composição e que possui uma massa muito pequena, que corresponde a 40% da massa do Sol.
Esses elementos verificados vão na contramão do que a Astronomia sabe até o momento. De acordo com teoria da evolução estelar, somente as estrelas com massa 10 vezes superior à do Sol deveriam produzir oxigênio, neônio e silício. Além disso, caberia às estrelas anãs brancas terem suas atmosferas formadas basicamente por hidrogênio e hélio.
Tendo em vista todas essas particularidades, os pesquisadores propuseram, em um artigo científico publicado na revista Royal Astronomical Society, um novo modelo de evolução estelar que se aplica à descoberta realizada:
— Nossa teoria é de que haviam duas estrelas muito próximas entre si e elas trocaram massa e energia. Em um determinado momento, elas explodiram em supernova parcial (evento caracterizado pela explosão das estrelas, normalmente quando o núcleo da estrela forma ferro). Esses dois corpos foram projetados em sentidos opostos. Isso explica o motivo pelo qual a SDSS J1240+6710 viaja a 900 mil km/h.
Essa velocidade é três vezes superior a das demais estrelas, por isso, sua trajetória escapa do centro da galáxia. Além disso, uma estrela com essas características sobreviver a uma supernova não é algo corriqueiro. Geralmente, o resultado destas explosões são estrelas de nêutrons buracos negros. Já as estrelas anãs brancas sobreviventes não apresentam oxigênio em sua atmosfera, como a encontrada.
Kepler aponta que a supernova foi parcial, porque foi identificada a falta de elementos como o ferro e o níquel – que dão brilho a uma supernova – em sua explosão.
— Não foi uma supernova normal, é algo que nunca vimos. Essa estrela é duplamente estranha por ter oxigênio em sua composição e ter uma massa muito pequena — observa.
A descoberta desta explosão abre um leque de possibilidades para que outras estrelas sobreviventes de supernovas sejam descobertas no Universo:
— As supernovas que conhecíamos, e que levaram à descoberta da expansão acelerada do Universo, que deu o prêmio Nobel em física de 2011, tiram sua energia do ferro e do níquel. Quantas existem que não formam ferro e quão brilhante são?
O que é estrela anã branca?
Estrelas como o Sol produzem energia transformando hidrogênio em hélio em uma reação de fusão nuclear. Esse processo é o que as fazem brilhar. Com o passar do tempo, o combustível nuclear interno delas é queimado. Quando se alcança o consumo total deste material, a estrela se transforma em anã branca. Isto vai acontecer com o Sol daqui a 5,5 bilhões de anos.