A maior emissora de televisão do país e uma editora de livros do interior do Rio Grande do Sul têm o mesmo desafio na nova ordem digital: gerar receita com seus conteúdos. O gerente de formatos do Grupo Globo, Rafael Sbarai, e o criador da editora Belas Letras, de Caxias do Sul, Gustavo Guertler, falaram sobre isso no segundo e último dia do Festival de Interatividade e Comunicação (FIC19),nesta terça-feira (29), na Unisinos Porto Alegre.
Sbarai e Guertler têm outra coisa em comum: ambos são jornalistas. Como profissionais formados para produzir conteúdo, cada um à sua maneira, enxergam-se confrontados com uma realidade em que o material por si só já não é suficiente para atrair o público a ponto de fazê-lo pagar por ele. Isso se tornou essencial diante da concentração da publicidade em plataformas digitais como Google e Facebook.
De formas diferentes, os dois palestrantes apontaram para a mesma direção em busca de soluções para esse problema: experiência do usuário. Segundo Sbarai, não é só para consumir conteúdo que você assina um serviço de streaming como a Netflix, por exemplo. Você paga pela experiência de escolher o que quer ver, sem anúncios e com a possibilidade de maratonar uma série inteira numa tarde.
— Atenção é a maior moeda da sociedade. Todos brigam pela mesma moeda — sentenciou.
Ações
Conquistar atenção e proporcionar boas experiências, segundo ele, passa também por tecnologia. Tanto que Sbarai considera essencial que jornalistas hoje saibam programar. Um exemplo concreto ilustra seu argumento: profissionais da área fizeram cobertura diária de trânsito por décadas no jornal, no rádio e na TV. Mas foram quatro israelenses que transformaram isso em um aplicativo útil e funcional para milhares de pessoas no mundo todo, o Waze.
No caso da editora caxiense, criatividade e parcerias foram as chaves para gerar receita com conteúdo editorial. Os livros, para Guertler, são a maior das paixões:
— A melhor paixão é a que paga nossos boletos — disse.
Conseguir pagar os boletos atuando em um mercado que acumula resultados negativos, com fechamento de editoras e livrarias, rendeu à Belas Letras um prêmio nacional de Inovação em 2019.
A campanha “compre um, doe um” foi destacada pelo Sebrae. Na compra de um livro pela internet, a pessoa recebia em casa um segundo título com uma carta explicando o propósito e convidando o comprador a doar. Além de aumentar em mais de 200% o resultado do e-commerce, a campanha resultou em altos índices de engajamento nas redes sociais, com registros de clientes que doaram os livros. Uma experiência que fez diferença.
— A gente acredita muito no poder das microatitudes — frisou o empresário, destacando a conexão entre marca e propósito na concepção das ações da editora.
A história da Belas Artes foi tema da série Te Mostra, Rio Grande, iniciativa do Grupo RBS para valorizar o empreendedorismo gaúcho.
Durante dois dias, a Unisinos recebeu dezenas de palestras sobre inovação a partir de diferentes perspectivas no FIC19, que teve como tema “a nova ordem digital”.